Germano Almeida, autor de quatro livros sobre presidências americanas, faz na TSF uma contagem decrescente para as eleições nos Estados Unidos. Uma crónica com os principais destaques da corrida à Casa Branca para acompanhar todos os dias.
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1 - TRUMP PRECISA DE UMA GUERRA CULTURAL PARA AINDA PODER SONHAR COM A REELEIÇÃO. Ao contrário do que, até à pandemia, se repetiu "ad nauseam", não será "a Economia" a dar a reeleição a Trump. Com os EUA a sofrerem a maior queda e de sempre no PIB, está Donald condenado a perder em novembro? Ainda não. Mas fica muito difícil imaginar uma recuperação, pelo menos no atual cenário. Sondagem Wall Street Journal/NBC News aponta que 80% (!) dos americanos considera que o país está à deriva, 65% acham que a pandemia está descontrolada e a tender a piorar e apenas 19% dos votantes republicanos estão satisfeitos com a forma como as coisas estão a correr na América. A taxa de aprovação de Trump raramente atinge os 40% (e só se consegue a reeleição muito acima dos 45)... O modelo preditivo da Economist, que em março previa a vitória de Trump em novembro, dá agora 91% de probabilidade de eleição a Biden. O que pode mudar o jogo? Uma "guerra cultural". Algo que não tenha a ver com medição quantitativa mas com "o sangue", a "pele", o "nativismo", o "território". Em 2016, estranhamente, foi isso que contou. Mas passaram quatro anos. E depois de quatro anos de presidência bizarra, errática e sem estratégia, ainda será possível criar uma narrativa "identitária" vencedora numa eleição presidencial?
2 - PORQUE É QUE BIDEN TEM MAIS HIPÓTESES QUE HILLARY? Joe Biden não tem o carisma de Obama nem sequer a preparação e o currículo político de Hillary. Mas então porque é que está, até agora pelo menos, a desempenhar melhor que a ex-senadora Clinton nas sondagens contra Trump? Harry Enten, do centro de sondagens da CNN, explica: "Donald Trump já tinha há quatro anos um índice de favorabilidade muito negativo: -26. Mas Hillary também tinha valores negativos: -17. Neste momento, Biden tem +2. Não é nada de estimulante, mas são 19 pontos mais que a sua antecessora na nomeação presidencial democrata". Sim, essa parece ser a chave. Biden não é particularmente entusiasmante. Mas, curiosamente, também não está mal em nenhum segmento fundamental para ganhar. Há quatro anos, Trump e Hillary tinham quase o mesmo número de pessoas a achar que eram desonestos (63%/62%). Desta vez, Biden é visto como honesto por 48% dos americanos, sendo que Trump, nesta fase, tem apenas 36% do eleitorado a achar o mesmo. O ponto de maior diferença entre Hillary e Biden será na "moderação": há quatro anos, Trump tinha mais gente a vê-lo como moderado do que Hillary (34/29), desta vez Biden tem quase o dobro nesse item em relação ao rival (30/17).
UMA INTERROGAÇÃO: Vão os eleitores brancos de perfil pouco qualificado do Ohio, que votaram claramente Obama em 2008 e 2012 e mudaram maioritariamente o seu voto para Trump em 2016, voltar a preferir os democratas com Joe Biden ou repetirão a preferência por Donald Trump?
UM ESTADO: Ohio
Resultado em 2016: Trump 51,7%-Hillary 43,6%
Resultado em 2012: Obama 50,7%-Romney 47,7%
Resultado em 2008: Obama 51,5%-McCain 46,9%
Resultado em 2004: Bush 50,8%- Kerry 48,7%
(nas últimas 12 eleições presidenciais, 5 vitórias democratas, 7 republicanas - OS DEMOCRATAS GANHARAM 2 DAS ÚLTIMAS 3 E 4 DAS ÚLTIMAS 7)
- O Ohio tem 11,7 milhões habitantes: 78,4% brancos, 4,0% hispânicos, 13,1% negros, 2,5% asiáticos; 51% mulheres
18 VOTOS NO COLÉGIO ELEITORAL
UMA SONDAGEM: Ohio - Trump 46/Biden 45
(YouGov 21-24 julho)
* autor de quatro livros sobre presidências americanas