Germano Almeida, autor de quatro livros sobre presidências americanas, faz na TSF uma contagem decrescente para as eleições nos Estados Unidos. Uma crónica com os principais destaques da corrida à Casa Branca para acompanhar todos os dias.
Corpo do artigo
1 - A ANTÍTESE DE UM SISTEMA PREPARADO PARA EVITAR REIS E DITADORES.
Dos Estados Unidos da América esperamos sempre o melhor. A capacidade que aquele grande país tem de nos surpreender pela positiva parece inesgotável. O problema é que, por vezes, os EUA também nos mostram o seu pior. Barack Obama era racional, profundo, tolerante e capaz de levar ao limite o compromisso para fazer valer o essencial do que pretende aprovar. Donald Trump é instável, incoerente, muda de ideias ao sabor do interesse do momento e revela a maturidade emocional de um miúdo de oito anos. Tem só estes defeitos? Claro que não. Ninguém chega a Presidente dos Estados Unidos sendo apenas assim. Trump teve o mérito de perceber que, neste estranho ano político de 2016, rendia a crítica ao "establishment" e às elites políticas. E usou, de forma magistral, e por isso perturbadora, as redes sociais para lançar ideias simplistas, capazes de baralhar o eleitorado. A "pós-verdade" ganhou ao "reality check", processo em risco de se tornar prática ultrapassada pelos algoritmos da rede invisível. O que fica? Uma permanente confusão: "Trump atingiu a presidência sem uma ideologia coerente. Tem múltiplas posições para os mesmos assuntos, conselheiros com perspetivas conflituantes e nenhuma experiência governativa em temas fundamentais. Aqueles que tentem analisar de forma honesta a sua administração serão obrigados a fazê-lo no meio do caos", aponta Ben Shapiro, na «National Review». No auge da pandemia coronavírus em Nova Iorque, e perante uma miserável falta de solidariedade federal de Trump para com a emergência estadual, Andrew Cuomo lembrava: "A América preferiu, num momento definidor, ter um Presidente em vez de um rei despótico".
2 - VALHA-NOS O SUPREMO
Quando, em abril de 2017, Donald Trump nomeou o juiz Neil Gorsuch para o Supremo Tribunal fui fortemente crítico da escolha, atendendo ao registo quase exclusivamente conservador das suas decisões até atingir o topo da hierarquia judicial nos EUA (adepto de uma interpretação literal da lei e de uma excessiva presença da religião na leitura da realidade jurídica). Mas também é verdade que a declaração que o juiz Gorsuch fez na noite da sua confirmação ("Prometo imparcialidade, independência, colegialidade e coragem. Um juiz que gosta de todos os resultados que atinge é provavelmente um mau juiz.") me fez pensar duas vezes sobre se as minhas críticas teriam sido exageradas. O juiz Neil Gorsuch, contra todas as previsões e certamente contra a sua opinião pessoal e o desejo de quem o nomeou (o Presidente Donald Trump) votou, a 15 de junho passado, pela proibição do despedimento dos homossexuais e transgénero nos EUA, abrigando-os na lei de defesa dos direitos cívicos, que proíbe "discriminação pelo sexo", aprovada já em 1964, durante a Presidência Johnson. Dias depois, o juiz John Stevens (de registo ambíguo, mas mais conservador que liberal nos votos que fez até agora) viabilizou a continuidade do DACA, decisão de Obama que protegia centenas de milhares de "Dreamers" (filhos de imigrantes ilegais, nascidos nos EUA), contrariando assim intenção de Trump de revogar essa lei. É em momentos destes que o sistema político e judicial daquele grande país continua a surpreender-me. Valha-nos o Supremo.
UMA INTERROGAÇÃO: Vai Joe Biden ser capaz de aumentar a mobilização de negros, mulheres e jovens, três segmentos que preferiram Hillary a Trump em 2016, mas que não foram às urnas em quantidade suficiente para que a candidata democrata confirmasse favoritismos nos estados do Midwest?
UM ESTADO: Minnesota
Resultado em 2016: Hillary 46,4%-Trump 44,9%
Resultado em 2012: Obama 52,7%-Romney 45,0%
Resultado em 2008: Obama 54,1%-McCain 43,8%
Resultado em 2004: Kerry 51,1%-Bush 47,7%
(nas últimas 12 eleições presidenciais, 11 vitórias democratas, 1 republicana)
- O Minnesota tem 5,6 milhões de habitantes: 79,1% brancos, 5,6% hispânicos, 7% negros, 5,2% asiáticos; 50,2% mulheres
10 VOTOS NO COLÉGIO ELEITORAL
UMA SONDAGEM: Minnesota - Biden 51/Trump 38
(Fox News 18-20 julho)
*autor de quatro livros sobre presidências americanas