Germano Almeida, autor de quatro livros sobre presidências americanas, faz na TSF uma contagem decrescente para as eleições nos Estados Unidos. Uma crónica com os principais destaques da corrida à Casa Branca para acompanhar todos os dias.
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1 - DE MCCAIN A TRUMP, COMO UM PARTIDO PODE PERVERTER A SUA DIGNIDADE EM POUCOS ANOS
Como é que o GOP (Grand Old Party) passou de McCain a Trump numa década? Como é que o GOP não se indigna com o agitar da possibilidade de Trump não vir a aceitar pacificamente uma derrota? Será que no Partido Republicano já ninguém tem memória do extraordinário discurso de concessão de John McCain na noite de 4 de novembro de 2008? O que levará um partido fundacional para o sistema político americano, que produziu presidentes como Lincoln, Teddy Roosevelt, Eisenhower, Reagan ou Bush pai, a aceitar ficar para sempre colado ao miserável legado de Donald Trump? À sua falta de respeito pelas instituições, à sua falta de civilidade, à sua falta de amor pela verdade, à sua forma insultuosa de tratar adversários e até aliados? À sua irresponsável ameaça de não aceitar resultados eleitorais, atirando para a lama a estabilidade eleitoral e política de um país que deveria ser uma referência de democracia? Como? Há um ano, no funeral do seu pai, Meghan McCain, referia, em óbvia contraposição a Trump: "A América de John McCain não precisa de ser grande outra vez - porque nunca deixou de ser grande". Os Estados Unidos vão sobreviver a um presidente indigno do "fardo glorioso" ("a glourious burden") que carrega. Mas o modo como os norte-americanos escolherão ver-se livres deste gigantesco embaraço definirá o grau da grandeza que resta à "nação indispensável". Só correrá bem se forem os eleitores a fazê-lo. E não é certo que se espere final feliz para esta história tão inesperada.
2 - O INVERNO PODE SEMPRE CHEGAR
Há precisamente cinco anos, no lançamento para a corrida presidencial de 2016, a revista TIME fez capa com George W. Bush e Bill Clinton, os dois antecessores de Barack Obama a anteciparem um 2016 que parecia ter tudo para ser o ano da entronização de Hillary Clinton. Mal sabiam que, nesse "Game of Thrones" (ideia escolhida para a manchete), afinal o que estaria para vir era mesmo um inverno trumpiano que tão mal tem feito à democracia americana. "Winter is Coming" é sempre um título escondido que só não virá à tona se puxarmos pelo melhor de nós -- em vez de permitirmos que os piores fantasmas nos atormentem. Depende de todos.
UMA INTERROGAÇÃO: Vai Donald Trump ter capacidade, caso obtenha um segundo mandato presidencial, de formar uma administração com elementos credíveis como os generais Jim Mattis e HR McMasterou Rex Tillerson e Nikki Haley, que ainda conseguiu congregar na primeira fase da sua presidência (mas foi perdendo, com estrondo, restando-lhe um governo fraco e mal preparado)?
UM ESTADO: Wisconsin.
Resultado em 2016: Trump 47,2%-Hillary 46,6%
Resultado em 2012: Obama 52,8%-Romney 45,9%
Resultado em 2008: Obama 56,9%-McCain 42,3%
Resultado em 2004: Kerry 49,7%-Bush 49,3%
-- O Wisconsin tem 5,8 milhões de habitantes: 87% brancos, 7% hispânicos, 6,7% negros, 3% asiáticos; 50,2% mulheres
10 VOTOS NO COLÉGIO ELEITORAL
UMA SONDAGEM: Wisconsin -- Biden 50/Trump 42
(Gravis, 22-23 julho)