Germano Almeida, autor de quatro livros sobre presidências americanas, faz na TSF uma contagem decrescente para as eleições nos Estados Unidos. Uma crónica com os principais destaques da corrida à Casa Branca para acompanhar todos os dias.
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1 - CAUSA E CONSEQUÊNCIA
Há quatro anos fazia mais sentido pensar que Donald Trump foi mais um sintoma do que uma razão. Mais uma consequência do que uma causa. Não caiu do nada, é certo. Mas, quatro anos depois, só não vê quem não quer: a presidência Trump degrada as instituições e vandaliza a Verdade. E isso é muito difícil de reverter. A América está em carne viva: doente, dividida, zangada, com gente nas ruas e até aos tiros uns contra os outros. Sem um fator de União, com um Presidente que acicata em vez de pacificar (e depois diz que é o garante da Lei e da Ordem), tão cedo o problema não vai resolver-se. O que se propalou na Convenção Republicana retira quaisquer ilusões de melhoria: só conta Trump e a família, não há outras correntes que sobrem no Partido Republicano; Biden é uma "ameaça aos valores americanos", porque supostamente está manietado pela agenda marxista (a sério); usurpação dos lugares da Casa Branca e do resto da Administração americana nos próprios discursos partidários (como é possível que isso não tenha gerado mais indignação?); simplificação enganosa sobre a realidade da pandemia, com a diabolização da China e a menorização das autoridades sanitárias. Se esta plataforma desconcertante for legitimada pelo voto a 3 de novembro, é todo um "mindset" em que a ciência, o conhecimento e a diversidade política eram bens inalienáveis que sofre uma derrocada. Será mesmo que as pessoas vão querer avalizar isto?
2 - UMA PRESIDÊNCIA EM ETERNO MODO "REALITY SHOW"
Uma das chaves do sucesso Trump junto da sua base é conseguir permanentemente impor a realidade alternativa que cria, na qual é sempre o herói que resolve tudo, em detrimento da realidade nua e crua. Só assim é possível compreender como Trump mantém tanta popularidade junto do seu "povo" eleitoral, apesar do desastre na gestão da pandemia e da subida trágica do número de mortos por Covid-19 nos EUA. É uma espécie de "reality show" eterno, em que o atual Presidente dos EUA conseguiu meter milhões de americanos. Em ensaio na Revista do Expresso, Pedro Boucherie Mendes enuncia: "Seria impensável mesmo numa ficção que o filtro político permitisse que um biltre sem maneiras e sem educação ascendesse ao poder. Até que Donald Trump foi eleito (...) Voluntariamente ou não, Trump parece fazer os possíveis e os impossíveis para que o continuemos a ver como se ainda fosse uma personagem televisiva. Talvez seja mais forte que ele (...) A vertigem pelo espetacular de Trump vem de longe, um homem que suspeitamos ter estado uma vida à espera dos "reality shows" e de uma rede social como Twitter (...) Trump pretende fazer um novo "reality show" mal abandone a Casa Branca, apoiado nessa sua nova entrada no currículo que é ter sido Presidente dos Estados Unidos".
UMA INTERROGAÇÃO: Vai Trump conseguir ser competitivo no Novo México, ganho por Hillary em 2016 com alguma folga?
UM ESTADO: Novo México
Resultado em 2016: Hillary 48,3%-Trump 40,0%
Resultado em 2012: Obama 53,0%-Romney 42,8%
Resultado em 2008: Obama 56,9%-McCain 41,8%
Resultado em 2004: Bush 49,8%-Kerry 49,0%
(nas últimas 12 eleições presidenciais, 7 vitórias republicanas, 5 vitórias democratas)
-- O estado do Novo México tem 2,1 milhões habitantes: 36,8% brancos, 49,3% hispânicos, 2,6% negros, 1,8% asiáticos; 50,5% mulheres
5 VOTOS NO COLÉGIO ELEITORAL
UMA SONDAGEM: Novo México | Biden 53-Trump 39
(Public Policy, 16-19 julho)