Germano Almeida, autor de quatro livros sobre presidências americanas, faz na TSF uma contagem decrescente para as eleições nos Estados Unidos. Uma crónica com os principais destaques da corrida à Casa Branca para acompanhar todos os dias.
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1 - "O TRUMP NÃO VAI ACEITAR". Todos os sinais apontam para que Donald Trump não pretenda abandonar o poder de forma pacífica. E, sim, o Presidente tem a capacidade de colocar milhões de apoiantes seus a acreditar que foram "roubados e enganados", caso perca nas urnas, sobretudo se a diferença não for muito significativa. Mas calma: os EUA têm leis, têm regras, têm tribunais e, no limite, têm militares com forte pendor institucional, que certamente tratarão de assegurar que quem ganhar as eleições venha a poder tomar posse com a normalidade possível. Incrível como o "bully" de Trump consegue incutir em tanta gente a ideia de que "aconteça o que acontecer, ele vai acabar por continuar lá". Mesmo que o cenário lhe seja tão desfavorável, tanto a nível pandémico como económico. Mesmo que todas as sondagens deem a eleição a Joe Biden. Sejamos racionais: Donald Trump não é a Comissão Eleitoral, é só um candidato em forma de Presidente-incumbente. Pode lançar a confusão. Pode criar problemas. Pode instigar a divisão e o ódio (foi sempre isso, de resto). Mas se perder vai sair. Se ganhar vai continuar. "Keep it simple" e "back to basics", mesmo que isso pareça complicado. Os Estados Unidos continuam a ser um grande país e um grande sistema. Vamos com calma.
2 - APERTEM OS CINTOS. Dito o essencial, é claro que há fortes hipóteses de haver problemas. Trump, que foi eleito à rente em três estados, nunca aceitará tranquilamente um cenário oposto, o de perder por muito pouco. É outro ponto em que se vê como é mais fácil ser-se um "bully" populista, em vez de ser um líder responsável. Esqueçam 2008, quando John McCain fez um notável discurso de concessão, numa mistura de pena por ter perdido com orgulho por ser americano e ver alguém como Barack Obama ser eleito Presidente. Uma década depois, quase tudo ficou pior no ambiente político, social e mediático nos EUA. Quando se escolhe alguém como Donald Trump para Presidente, não se espere elevação. Há que prever baixo nível e divisão. Apertem os cintos: nos próximos 56 dias vai valer quase tudo.
UMA INTERROGAÇÃO: Que percentagem do "universo Trump" vai ser sensível ao argumento da "fraude eleitoral" se o seu candidato perder?
UM ESTADO: Colorado
Resultado em 2016: Hillary 48,2%-Trump 43,3%
Resultado em 2012: Obama 51,5%-Romney 46,1%
Resultado em 2008: Obama 53,7%-McCain 44,7%
Resultado em 2004: Bush 51,7%-Kerry 47,0%
(nas últimas 12 eleições presidenciais, 8 vitórias republicanas, 4 vitórias democratas)
- O estado do Colorado tem 5,8 milhões habitantes: 67,7% brancos, 21,5% hispânicos, 4,8% negros, 3,5% asiáticos; 50,9% mulheres
9 VOTOS NO COLÉGIO ELEITORAL
UMA SONDAGEM: Colorado | Biden 52-Trump 39
(Morning Consult, 17-26 julho)
*autor de quatro livros sobre presidências americanas.