Germano Almeida, autor de quatro livros sobre presidências americanas, faz na TSF uma contagem decrescente para as eleições nos Estados Unidos. Uma crónica com os principais destaques da corrida à Casa Branca para acompanhar todos os dias.
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1 - JOGAR PELO SEGURO.
Joe Biden está a jogar pelo seguro, percebendo que, na longa caminhada para a Presidência dos EUA, nas primárias é importante carregar forte na ideologia (para agradar à base partidária), mas na eleição geral há que juntar sensibilidades e não eliminar - mais do que continuar a somar. Escolheu para número dois alguém que atinge vários segmentos relevantes para a "grande tenda" democrata (mulher, ascendência negra pelo pai jamaicano, ascendência asiática pela mãe indiana) e lhe confere a segurança de que há dois "eventuais Presidentes" no mesmo ticket. Mas Joe sabe que é preciso mobilizar todas as correntes "anti-Trump" para conseguir ganhar em novembro. Terá o voto dos negros e dos asiáticos em esmagadora maioria. Mas... e os brancos, que deram 10 pontos de vantagem a Trump sobre Hillary em 2016? Para já, os estudos mostram que Biden tem melhor aceitação no eleitorado branco dos estados da "cintura da ferrugem" que teve Hillary. Não por grande diferença, mas que pode ser significativa, se atendermos a que Trump ganhou por muito pouco no Michigan, na Pensilvânia e no Wisconsin (venceu por bem mais no Ohio). Se Biden reconquistar a confiança dos brancos pouco qualificados desses estados -- que votaram Obama em 2008 e 2012, mas preferiram Trump em relação a Hillary em 2016 - será Presidente com uma significativa maioria do Colégio Eleitoral.
2 - A QUADRATURA DO CÍRCULO.
O nomeado democrata está, por isso, a tentar completar a "quadratura do círculo": ter mais mobilização da esquerda do que teve Hillary; recuperar a "firewall Obama 2012" do Midwest, que Hillary perdeu para Trump em 2016; aproveitar uma parte (nunca maioritária, mas uma parte) dos descontentes independentes e republicanos moderados (espécie em vias de extinção, mas ainda existente), que se indignam com o modo Trump mas são ideologicamente mais à direita. Nunca votariam em Sanders ou Hillary. Ou até Obama. Mas talvez venham a votar em Biden, um quase octogenário pouco estimulante, mas sólido e credível (pouco dado a aventuras esquerdistas e com mais de meio século de realismo institucional). Sobretudo se isso lhes garantir que não vão levar com mais quatro anos de um Presidente inaceitável, que põe a América na lama.
UMA INTERROGAÇÃO: Quanta gente de direita na América vai votar em Joe Biden?
UM ESTADO: Arkansas
Resultado em 2016: Trump 60,6%-Hillary 33,7%
Resultado em 2012: Romney 60,6%-Obama 36,9%
Resultado em 2008: McCain 58,7%-Obama 38,9%
Resultado em 2004: Bush 54,4%-Kerry 44,5%
(nas últimas 12 eleições presidenciais, 9 vitórias republicanas, 3 vitórias democratas)
-- O estado do Arkansas tem 3,1 milhões habitantes: 72,0% brancos, 7,8% hispânicos, 15,9% negros, 1,9% asiáticos; 50,9% mulheres
6 VOTOS NO COLÉGIO ELEITORAL
UMA SONDAGEM: Arkansas | Trump 47-Biden 45
(Hendrix College, 14 junho)
*autor de quatro livros sobre presidências americanas.