Germano Almeida, autor de quatro livros sobre presidências americanas, faz na TSF uma contagem decrescente para as eleições nos Estados Unidos. Uma crónica com os principais destaques da corrida à Casa Branca para acompanhar todos os dias.
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1 - UMA MENSAGEM DE DEUS PARA A PRESIDÊNCIA TRUMP
Os Estados Unidos têm apenas 4% da população mundial mas 26% do total de infetados COVID no mundo - e 22% do total de mortes. O estado da Florida, se fosse um país, era o quarto no mundo com mais infetados declarados. A gestão desastrosa da atual administração americana no modo como primeiro negou, depois desdenhou e mais tarde minimizou a pandemia terá o seu peso na eleição de novembro. Mas a verdade é que Donald Trump tem conseguido suster o essencial da sua base, mesmo em estados em que a pandemia tem tido grandes aumentos. Como é que isto é possível? Tentar compreender a lógica da argumentação trumpiana pode ajudar. Há dias, Trump lançou junto dos seus apoiantes a ideia de que "a COVID-19 será um teste que Deus criou para testar" a sua presidência. Fora daquele ambiente em que a razão e as evidências há muito ficaram de lado, essa ideia parece apenas ridícula. Mas no universo trumpiano soa a perfeitamente normal.
2 - "NÃO VOLTEM A CONTRATAR UM PRESIDENTE FALHADO"
Mike Bloomberg, oitavo americano mais rico (Donald Trump é só o 275.º), não se revelou um bom candidato presidencial. Nas primárias democratas foi uma desilusão: o que lhe sobrou em dinheiro para anúncios faltou-lhe em eloquência e eficácia discursiva. Mas Mike escreve muito melhor do que fala e, em artigo publicado na... Bloomberg (isso sim, é jogar em casa), expôs as razões que o levaram a apoiar Joe Biden. Em tom de aviso aos americanos, apontou, num diagnóstico arrasador sobre Donald Trump: "Não voltem a contratar um Presidente falhado". "Nunca fui por uma política partidária. Já apoiei democratas, republicanos e independentes. Aliás, já fui democrata, republicano e independente. Para mim, eleições são sobre as pessoas. E as duas pessoas que concorrem à Presidência dos EUA não podiam ser mais diferentes. Um acredita em factos. O outro pensa que sabe tudo. Um olha para a frente e vê força na Diversidade da América. O outro olha para trás e vê os imigrantes como inimigos e os supremacistas como aliados". Bloomberg vai mais longe na crítica a Trump: "Quando foi confrontado com a maior calamidade que qualquer Presidente já enfrentou, Donald Trump passou a melhor parte do ano a minimizar a ameaça, a ignorar a ciência e a recomendar curas próprias de charlatães, o que permitiu que o COVID-19 se espalhasse muito mais depressa do que devia ter acontecido, fazendo centenas de milhares de doentes e vítimas mortais desnecessárias. Ele falhou catastroficamente com o povo americano". Bloomberg é o que se pode considerar um bom barómetro de alguém que se interessa mas admite mudar de posição. Será que representa o que pensa o eleitorado flutuante na América?
UMA INTERROGAÇÃO: Será preciso recorrer aos tribunais para definir quem será o Presidente dos EUA no período entre 20 de janeiro 2021 e 20 de janeiro 2025?
UM ESTADO: Carolina do Sul
Resultado em 2016: Trump 54,9%-Hillary 40,7%
Resultado em 2012: Romney 54,6%-Obama 44,1%
Resultado em 2008: McCain 53,9%-Obama 44,9%
Resultado em 2004: Bush 58,1%-Kerry 41,0%
(nas últimas 12 eleições presidenciais, 11 vitórias republicanas, 1 vitória democrata)
-- O estado da Carolina do Sul tem 5,2 milhões habitantes: 63,7% brancos, 6,0% hispânicos, 27,0% negros, 1,8% asiáticos; 51,6% mulheres
9 VOTOS NO COLÉGIO ELEITORAL
UMA SONDAGEM: Carolina do Sul | Trump 47-Biden 42
(Quinnipiac, 30 julho/4 agosto)