Germano Almeida, autor de quatro livros sobre presidências americanas, faz na TSF uma contagem decrescente para as eleições nos Estados Unidos. Uma crónica com os principais destaques da corrida à Casa Branca para acompanhar todos os dias.
Corpo do artigo
1 - QUE IDEIA GANHARÁ ESTA TÃO ESTRANHA ELEIÇÃO?
Os programas eleitorais, as convenções, os debates, as "gaffes", as polémicas, tudo isso tem a sua importância - mas cada vez menos decisiva, há que dizer. Uma campanha presidencial é uma corrida tão longa e complexa que o que fica mesmo são as duas ou três ideias fortes de cada campo. No fim de tudo, até se torna relativamente fácil e claro perceber o que prevaleceu: em 2008 Obama ganhou com duas ideias tão simples como poderosas: "mudança" (Change) e "sim, nós podemos" ou "sim, é possível" (Yes We Can). Em 2012 foi reeleito com uma mensagem menos inspiradora mas igualmente eficaz: "Forward", em frente. Havia que continuar o caminho de recuperação económica encetado a partir de segundo ano do primeiro mandato presidencial do primeiro Presidente negro da América. Em 2016, Trump ganhou sobre dois pressupostos negativos e divisionistas, mas também poderosos: "America First", o egoísta América Primeiro de base nacionalista e antiglobalista; e "Make America Great Again" (Fazer a América de Novo Grandioso), um compromisso irrealista com um suposto regresso a um suposto passado glorioso em que a ascensão das minorias não perturbava o domínio da América branca. De todo o modo, a mensagem Trump em 2016 teve também o mérito da clareza: os destinatários perceberam bem o que o candidato tinha para oferecer. O agora? O que vigorará? Trump prometia manter a América grande ("Keep America Great"), uma ideia que se desmoronou com o desastre da gestão da pandemia e a derrocada da economia. Trump fletiu para a diabolização da China e promete ser aquele que melhores condições tem de encetar a recuperação económica. Outra mensagem forte de Trump é: não entreguem a Presidência à esquerda radical. Azar nítido: isso valeria se do outro lado estivesse Bernie Sanders. Os democratas escolheram Biden, o Moderado, e Biden juntou Kamala, outra moderada. Será que Trump vai conseguir convencer dezenas de milhões de americanos do contrário? Do lado Biden há duas ideias fortes a repetir: a América merece um Presidente melhor mais decente, que saiba comportar-se à mesa com os outros líderes, que respeite aliados tradicionais e se afaste das más companhias; Trump geriu mal a pandemia e não tem empatia para com a dor de milhões de famílias afetadas pela Covid-19. O que ficará, no final desta tão estranha eleição?
2 - REPUBLICANO POR CONVENIÊNCIA
Donald Trump, democrata até ao final dos anos 90, mudou o Partido Republicano para sempre. Conseguiu fazer dos republicanos "barriga de aluguer" para concretizar o seu sonho de chegar à Presidência. O "core" da agenda Trump só se enquadra na tradição republicana na parte dos costumes (antiaborto), religioso (e mesmo esse "colado" já durante a campanha, bem distante da ligação à base evangélica de Ted Cruz, Rick Santorum ou Mike Huckabee) e nos setores da direita americana mais propensos a alinhar numa conversa negacionista ou, pelo menos, cética, em relação às consequências das alterações climáticas. Mas o triunfo Trump fez recuar décadas de comprometimento republicano na aproximação à China, iniciada por Nixon nos anos 70, no distanciamento crítico com Moscovo (Mitt Romney, nomeado presidencial republicano há apenas sete anos, apontou, em debate contra Obama, Vladimir Putin como "inimigo público numero 1 da América") e, sobretudo, no compromisso republicano em relação ao comércio internacional e às vantagens do multilateralismo. Donald Trump não é um político hábil. Não tem capacidade de criar consensos e estabelecer compromissos. O seu trunfo é o de conseguir falar diretamente a cerca de um terço do eleitorado americano, que o apoia cegamente, bastando para isso que o Presidente insulte o "mainstream media" e os "políticos em Washington". Agarrou a narrativa do populismo e da crítica às elites. Isso chega a ser risível, se nos lembrarmos que Trump, durante décadas, fez parte dessa elite e financiou muito dos políticos que agora insulta e critica. Mas a vitória de Trump em 2016 explica-se pelo sucesso que teve em agarrar boa parte dos "zangados" do sistema. Há uma década que 80 a 90% doa americanos reprovam o desempenho do Congresso e dos políticos de Washington. Se olharmos para esse dado, verificamos que os 46% de Trump em 2016 acabam por não ser um número assim tão impressionante.
UMA INTERROGAÇÃO: Que alterações no mapa político americanos trará esta eleição 2020?
UM ESTADO: Luisiana
Resultado em 2016: Trump 58,1%-Hillary 38,5%
Resultado em 2012: Romney 57,8%-Obama 40,6%
Resultado em 2008: McCain 58,6%-Obama 39,9%
Resultado em 2004: Bush 56,7%-Kerry 42,2%
(nas últimas 12 eleições presidenciais, 9 vitórias republicanas, 3 vitórias democratas)
-- O estado da Luisiana tem 4,7 milhões habitantes: 58,4% brancos, 5,3% hispânicos, 32,8% negros, 1,8% asiáticos; 51,2% mulheres
8 VOTOS NO COLÉGIO ELEITORAL
UMA SONDAGEM: Luisiana | Não há sondagens para este estado; o modelo preditivo da Economist dá mais de 99% de probabilidades de vitória Trump na Luisiana