Germano Almeida, autor de quatro livros sobre presidências americanas, faz na TSF uma contagem decrescente para as eleições nos Estados Unidos. Uma crónica com os principais destaques da corrida à Casa Branca para acompanhar todos os dias.
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1 - 2008 FOI HÁ MUITO MAIS QUE 12 ANOS
Em 2008, o primeiro candidato presidencial negro venceu a Casa Branca, derrotando um americano respeitável, com feitos notáveis e uma coragem inspiradora. Barack Obama e John McCain eram dois americanos que puxavam pelo melhor de nós, dois americanos de gerações e vivências muito diferentes, mas dois líderes de referências, que elevavam o nome e a imagem da América. 2008 foi, cronologicamente, há 12 anos. Mas na política e na sociedade americana foi há muito mais. Na noite de 4 de novembro de 2008, John McCain fez um discurso de concessão simplesmente admirável. Vale a pena ouvir de novo ou, para os mais novos, vale a pena ouvir pela primeira vez. São 15 minutos que podem ser apreciados a qualquer momento no YouTube, basta digitar "McCain concession speech". Nesse discurso, nos momentos em que percebeu que o sonho da sua vida não iria ser cumprido (ser Presidente dos EUA), o então senador do Arizona, falecido há dois anos, revelou o seu grande orgulho por representar um país que tinha acabado de eleger para Presidente alguém como Barack Obama - alguém que o acabara de derrotar. Aconteceu há pouco mais de uma década. Desde aí, os americanos permitiram que na Casa Branca esteja alguém que instiga o ódio, a divisão e a confusão. Que usa a mentira como instrumento constante. E que não respeita as regras básicas do saber ganhar e do saber perder. Se perder a 3 de novembro 2020, que ninguém espere um discurso do género com Donald Trump. Os sinais de alarme estão aí. Só não vê quem não quer.
2 - BARALHA E VOLTA A DAR
O modo intenso como decorre uma eleição presidencial americana (com várias novidades e sinais contraditórios, por um longo período de tempo) cria a perceção ilusória de que tudo pode ser muito relevante para a decisão final. Mas não é bem assim. Um olhar para o estado da corrida há precisamente um ano mostra-nos que Biden tinha entre 9 e 12 pontos de avanço nas sondagens nacionais sobre Trump (a FOX News dava 50% a Biden e 38% a Trump a 15 de agosto de 2019 e
precisamente os mesmos valores em julho 2020). Ora, esse é, em traços gerais, o quadro atual - talvez com uma tendência para um ligeiro encurtamento dessa diferença, ainda que Joe mantenha avanço considerável. É uma espécie de "baralha e volta a dar" que apontam para uma continuidade a médio prazo, mais do que mudanças dramáticas em pouco tempo.
UMA INTERROGAÇÃO: Será o vice-presidente Mike Pence a peça essencial para manter a ligação da base Trump com os estados do Sul?
UM ESTADO: Tennessee
Resultado em 2016: Trump 60,7%-Hillary 34,7%
Resultado em 2012: Romney 59,5%-Obama 39,1%
Resultado em 2008: McCain 56,9%-Obama 41,8%
Resultado em 2004: Bush 56,8%-Kerry 42,6%
(nas últimas 12 eleições presidenciais, 3 vitórias democratas, 9 vitórias republicanas)
-- O Tennessee tem 6,9 milhões habitantes: 73,5% brancos, 5,7% hispânicos, 17,1% negros, 2,0% asiáticos; 51,2% mulheres
11 VOTOS NO COLÉGIO ELEITORAL
UMA SONDAGEM: Tennessee | Não há sondagens para este estado | O modelo preditivo da Economist dá mais de 99% de probabilidades de vitória Donald Trump no Tennessee
*autor de quatro livros sobre presidências americanas