A Amnistia Internacional pediu o fim imediato da repressão contra manifestantes pacíficos no Iémen, onde as forças de segurança mataram dezenas de pessoas em dois dias.
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«Os abusos cometidos pelas forças iemenitas são totalmente inaceitáveis e devem acabar. E os que são responsáveis por violações dos direitos humanos devem responder pelos seus actos», referiu a organização em comunicado.
A Amnistia apontou que os que exigem a saída do presidente Ali Abdallah Saleh «estão cada mais desiludidos com o impasse político» no país e o director adjunto da Amnistia para o Médio Oriente e Norte de África, Philip Luther, advertiu contra «o risco crescente de uma guerra civil».
«As autoridades iemenitas devem pôr de lado o recurso à força excessiva antes que a espiral de violência fique fora de controlo», acrescentou Luther no comunicado.
A organização propõe a criação de uma comissão de inquérito independente e imparcial sobre a violência no Iémen e a «suspensão imediata da entrega de armas e de munições que possam ser utilizadas de forma excessiva» contra os que protestam.
«A comunidade internacional não pode continuar a colocar as suas preocupações de segurança e receio da Al-Qaeda antes dos direitos humanos», afirmou Luther em alusão à ajuda dada ao regime de Saleh na luta contra a rede terrorista, muito activa no Sul e Leste do Iémen.
A repressão dos contestatários que reclamam a saída de Saleh, no poder há 33 anos e acusado de corrupção e nepotismo, provocou mais de 200 mortos e cerca de um milhar de feridos desde Fevereiro, indicou a Amnistia.
Só esta segunda-feira, pelo menos 27 pessoas morreram em Sanaa, durante novas manifestações que exigem a demissão do presidente, anunciou o «comité de organização da revolução».
O último balanço dos confrontos eleva para 53 o número de mortos na capital Sanaa desde domingo, refere o comité.
De acordo com um comunicado recebido pela agência noticiosa AFP, o comité acrescenta que 942 pessoas foram feridas por disparos em dois dias e 47 encontram-se em estado grave.
O comité confronta ainda os países «irmãos e amigos» e a comunidade internacional com a sua «responsabilidade moral» face à violência provocada «pela família [do presidente] Saleh, que se tornou um perigo para a região».
Também esta segunda-feira e num cenário de agravamento da violência, o rei Abdullah da Arábia Saudita recebeu o líder iemenita, que permanece em convalescença no país vizinho, para discutir a crise no Iémen, referiu a agência oficial SPA.
Durante o encontro, o primeiro entre os dois responsáveis desde a convalescença de Saleh, o rei Abdullah pugnou pelo «fim da crise» no país vizinho e recordou que o reino saudita «apoia um Iémen unificado, seguro e estável», segundo referiu a agência oficial Spa.
O encontro, onde também participou o chefe dos serviços de informações sauditas, o príncipe Moqrin Ben Abdal Aziz, coincidiu com a chegada a Sanaa do mediador do Golfo, Abdellatif al-Zayani, e do emissário da ONU no Iémen, Jamal Benomar, numa nova tentativa para solucionar o impasse político.
Saleh recusou-se até ao momento a assinar um plano regional, que prevê a transferência do poder para o seu vice-presidente, Abd Rabbo Mansour Hadi, no âmbito do processo de transição de poderes no país.