Ana Catarina Mendes alerta para dependência militar da UE e impacto das ameaças de Trump
Eurodeputada é favorável a um instrumento de dívida comum para reforçar autonomia europeia em defesa e segurança
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A eurodeputada Ana Catarina Mendes (PS) alerta para a necessidade de a União Europeia reforçar a sua autonomia estratégica em matéria de defesa e segurança, sublinhando a dependência militar da Europa face aos Estados Unidos e sobre os riscos que podem surgir com as ameaças de Donald Trump à NATO.
“É importante que os Estados-membros se sentem à volta da mesa e avaliem quais são os riscos que existem neste momento em termos de defesa e segurança. Depois da guerra na Ucrânia, é fundamental olharmos com atenção para a competitividade da Europa e para o impacto das ameaças que Trump tem feito, tanto aos Estados-Membros como à NATO”, afirmou a eurodeputada, em entrevista ao programa da TSF Fontes Europeias.
Ana Catarina Mendes destacou que a segurança europeia tem sido garantida, em grande parte, pela aliança transatlântica com os EUA, mas sublinhou a necessidade de garantir que essa relação possa “continuar a sobreviver” num contexto de maior incerteza política nos Estados Unidos.
A poucos dias da cimeira que juntará em Bruxelas os 27 chefes de Estado ou de Governo da União Europeia e o primeiro-ministro do Reino Unido, a eurodeputada Ana Catarina Mendes, que é membro efetivo da recém criada comissão de defesa do Parlamento Europeu, considera urgente um maior investimento europeu neste setor.
Defendendo um maior investimento europeu em defesa e inovação tecnológica, Ana Catarina Mendes mostrou-se favorável à criação de um instrumento de dívida comum, à semelhança do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR). “Era bom que os Estados-membros pudessem debruçar-se sobre essa questão e ganhar autonomia em defesa e segurança”, afirmou.
“Uma das medidas para as quais o relatório Draghi aponta é para a emissão de dívida comum nos Estados-membros, à semelhança dos investimentos do PRR, e que eu vejo com bons olhos”, vincou.
A eurodeputada insistiu também que o reforço da indústria militar europeia não deve ser visto apenas no contexto de armamento, mas também no combate a novas ameaças. “A defesa hoje não se resume às armas. Envolve também a resposta a interferências externas, ataques híbridos e desafios tecnológicos, como alertou recentemente o secretário-geral da NATO”, frisou.
A deputada referiu ainda que um dos “desafios centrais” da UE é a sua dependência em setores estratégicos, nomeadamente a dependência energética da Rússia, a dependência militar dos EUA e a dependência industrial da China. “Quando olhamos para as importações da União Europeia em matéria de defesa e percebemos que 78% vêm dos Estados Unidos, isso diz muito sobre o que temos de fazer”, sublinhou.
O tema estará em debate à mesa dos chefes de Estado ou de governo em Bruxelas, numa reunião informal, liderada por António Costa e que contará com a presença de Keir Starmer, o primeiro-ministro britânico.
A cimeira europeia sobre defesa e segurança, que decorre na próxima segunda-feira, 3 de fevereiro de 2025, deverá discutir formas de aumentar o investimento europeu no setor, incluindo a possibilidade de canalizar mais recursos para a indústria de defesa da UE. A eurodeputada manifestou-se otimista quanto aos resultados da reunião. “Mesmo que os tempos estejam perturbados e sejam cinzentos, espero que haja caminho para trilharmos juntos”, referiu.