Ana Catarina Mendes defende equilíbrio entre financiamento da defesa europeia e coesão social
“Acho perigoso que os fundos de coesão possam ser desviados para a Defesa, exceto se isso significar a reconversão industrial e a qualificação dos trabalhadores”, afirma a eurodeputada
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A eurodeputada Ana Catarina Mendes alertou esta quinta-feira para os riscos de um redirecionamento de fundos da política de coesão para a defesa europeia, considerando que é necessário garantir um equilíbrio entre o reforço da autonomia estratégica da União Europeia e a manutenção do investimento na coesão social e regional.
Em entrevista ao programa da TSF Fontes Europeias, a eurodeputada socialista e membro da Comissão de Defesa do Parlamento Europeu considerou “perigoso” a possibilidade de verbas não utilizadas dos fundos de coesão serem redirecionadas para o setor da defesa, sugerindo que sejam tidos em conta outros aspetos, para que as verbas mantenham a sua componente social e regional.
“Acho perigoso que os fundos de coesão possam ser desviados para a defesa, exceto se isso significar a reconversão industrial e a aposta na qualificação dos trabalhadores”, afirmou Ana Catarina Mendes. A eurodeputada defendeu que os Estados-membros devem encontrar formas próprias de financiar o reforço da defesa europeia sem comprometer investimentos essenciais em saúde, educação e proteção social.
Na entrevista, Ana Catarina Mendes considerou que a busca pela autonomia estratégica deve passar também pelo desenvolvimento da inteligência artificial aplicada à defesa e pela criação de uma base industrial europeia robusta.
“Hoje, a guerra não se faz só com armas, mas também com inteligência artificial. É fundamental que a Europa lidere nesta área e reduza a sua dependência tecnológica face à China e aos Estados Unidos”, sublinhou.
“Aquilo que eu espero é que, num investimento que reconheça o necessário, quando nós olhamos para a dependência que a União Europeia tem face aos Estados Unidos em matéria de gastos com a defesa, é evidente que nós temos de ter autonomia e autossuficiência para conseguir”, afirmou, sublinhando que “não é por acaso que, aliás, a União Europeia, na comunicação que faz a propósito do Livro Branco, diz que 65% destes gastos deve ser feito no espaço ucraniano e no espaço da União Europeia”.
Questionada sobre se um maior envolvimento de Bruxelas nas políticas de defesa não põe em causa a soberania dos Estados, a eurodeputada considerou que a soberania dos Estados-membros é preservada nas discussões que estão em vigor a nível europeia, salientando que a criação de uma política comum de defesa não deve significar uma revisão dos tratados da União Europeia.
“Os tratados garantem que a defesa continua a ser uma competência dos Estados-Membros. O que se pretende é um esforço coordenado para reforçar a segurança europeia sem comprometer a soberania nacional”, afirmou.