A eurodeputada portuguesa foi hoje impedida de entrar no Barhein, onde pretendia informar-se sobre a situação de um ativista dos direitos humanos em greve de fome na prisão há 82 dias.
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«Decidi vir ao Barhein na sequência da visita [ao Parlamento Europeu], na semana passada, de uma das filhas de Abdulhadi al-Khawaja, que está preso e em greve de fome há mais de 80 dias sem julgamento, depois de ter sido torturado e brutalmente espancado», contou a deputada europeia à Lusa por telefone desde o aeroporto de Manama.
Para Ana Gomes, a recusa das autoridades em autorizá-la a entrar no país «só se pode explicar com o grande nervosismo das autoridades do Barhein».
«Recusaram-me a entrada porque têm muito a esconder no que diz respeito à forma escandalosa como tratam ativistas dos direitos humanos» como Al-Khawaja, afirmou a eurodeputada.
Ana Gomes afirmou ter-se certificado de que poderia requerer um visto à chegada, «o que é um procedimento regular» no Barhein, e apresentou-se no aeroporto de Manama com o seu passaporte diplomático, que indica tratar-se de uma eurodeputada.
Após uma espera de cinco horas, reclamou da demora e pediu para falar com o Ministério dos Negócios Estrangeiros, mas ao fim de outras duas horas foi informada de que o seu visto tinha sido recusado.
«Nunca como membro do Parlamento Europeu tive em qualquer lugar um tratamento deste género», disse Ana Gomes, afirmando que pretende agora «chamar a atenção para esta questão e fazer a máxima pressão sobre os governos europeus, alguns dos quais têm muito bons negócios com o país e têm sido perfeitamente coniventes com o que se tem passado em matéria de direitos humanos».
A eurodeputada sublinhou que Abdulhadi al-Khawaja, bem como as suas filhas, uma das quais está detida há uma semana, tem dupla nacionalidade, da Dinamarca e do Barhein, e embora a embaixada dinamarquesa tenha feito «muitas diligências, outros países [da União Europeia] não a apoiam, nomeadamente o Reino Unido e a França, por causa dos negócios que têm com o Barhein».
Sublinhou a urgência da sua visita tendo em conta, não só o facto de se temer pela vida de al-Khawaja após 82 dias de greve de fome, mas também porque está marcado para segunda-feira o início da repetição do seu julgamento.
Num primeiro julgamento no ano passado, al-Khawaja e outros sete ativistas foram condenados a prisão perpétua numa campanha para reprimir a revolta da maioria shiita, que se queixa de discriminação sistemática às mãos da monarquia sunita apoiada pelo ocidente.
Pelo menos 50 pessoas morreram desde o início dos protestos, em 14 de fevereiro do ano passado.
O objetivo da visita de Ana Gomes, após apelos de uma filha do ativista e de organizações como a Human Rights Watch e a Amnistia Internacional, era «chamar a atenção para a situação, que exige que as autoridades europeias pressionem as autoridades do Barhein a prestarem contas e a não continuarem este jogo que só conduzirá a mais derramamento de sangue, sobretudo se acontecer alguma coisa a al-Khawaja, que é muito respeitado e admirado».