Análise genética identifica três mil descentes de 27 escravos esquecidos em cemitério
Estudo divulgado esta quinta-feira na revista Science utilizou dados de uma empresa que aglutina informações genéticas de 14 milhões de pessoas, de modo a fazer uma análise aprofundada a 27 cadáveres encontrados num cemitério.
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Está a ser encarado como um estudo sem precedentes aquele que permitiu identificar a história, a origem e os descendentes de 27 escravos nos Estados Unidos da América. Os cadáveres foram descobertos num cemitério abandonado numa floresta em Maryland. Através das ossadas foram identificados mais de 3 mil descendentes diretos dessas pessoas
A investigação publicada na revista Science apresenta-se como uma grande descoberta, já que é a primeira vez que é possível fazer uma espécie de árvore genealógica destes cidadãos.
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Os censos norte-americanos apenas passaram a incluir pessoas negras nos censos a partir de 1870, o que significa que a maioria desses cidadãos não conhece as próprias origens para lá dessa data.
Este estudo quebra essa barreira. Os investigadores analisaram a enorme base de dados da empresa 23andMe, uma espécie de Google da genética com 14 milhões de utilizadores em todo o mundo. Desse modo, foram identificados 41.779 familiares desses escravos encontrados no cemitério. Entre eles, 2975 conservam pelo menos 0,4% do ADN dessas pessoas, o que os torna provavelmente descendentes diretos do grupo de 27 escravos esquecidos no cemitério.
Segundo um dos investigadores, citado pelo El Pais, "o grau de parentesco de algumas pessoas deste grupo significa que um dos escravos era o pai ou a mãe do seu trisavô ou da sua trisavó". Já noutros casos, "a relação é menos direta, podem apenas ter partilhado um antepassado em comum, por exemplo, um primo".
No cemitério abandonado em Maryland apenas foram encontradas mulheres. Acredita-se que os homens tenham sido vendidos ou enterrados noutro local.
Os restos de esqueletos encontrados têm as marcas da vida que levaram, como, por exemplo, lesões nas costas devido ao transporte de cargas pesadas, problemas dentários e elevados níveis de zinco, por causa dos fumos da fundição onde trabalhavam.
A análise genética mostra ainda que a maioria dos escravos descendia, através da linha paterna, de homens de Inglaterra e da Irlanda. Dado que confirma que os senhores brancos violavam ou subjugavam sexualmente as escravas para produzirem descendência.
Esta análise sem precedentes de ADN permitiu também algo nunca antes conhecido com tanta exatidão, já que é possível saber que estes escravos eram originários precisamente do Senegal, da Gâmbia e também do Congo.