Intransigência. Austeridade. Rigor absoluto. São palavras, ou expressões, facilmente associáveis a Angela Merkel. Mas no no último mês, a chanceler alemã despertou para a questão dos refugiados e em pouco tempo assumiu o comando de uma Europa desorientada face a um problema com dimensões inesperadas.
Corpo do artigo
O imobilismo de Angela Merkel é bem conhecido dos alemães. Mónica Dias, professora e investigadora do Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica, dá como exemplo um novo verbo muito usado nos últimos tempos - "Merkeln" ou, em português, "Merkelar", que significa adiar, deixar que as coisas se resolvam sozinhas, não fazer nada.
O arranque de 2015 trouxe duas "dores de cabeça" para a chanceler: Grécia e Ucrânia. Para a professora e investigadora Mónica Dias, Angela Merkel acabou por centrar-se nesses acontecimentos e adiou o dossier "Refugiados". A opinião pública alemã não gostou, especialmente depois dos ataques aos centros de asilo no leste do país, e a chanceler viu-se obrigada a reagir e a puxar o assunto para o topo da agenda política.
E para isso, foi também preciso corrigir uma imagem associada à austeridade e a um rigor intransigente e, de certa forma, "humanizar-se". Para a investigadora Mónica Dias, a expressão é talvez exagerada mas reconhece que Merkel teve necessidade de mostrar um outro lado, mais flexível. E esta mudança da chanceler "não seria possível sem esta atitude da população alemã, que quer dar o exemplo e exige à sua chanceler uma posição diferente".
Ainda assim, lembra a investigadora, "Angela Merkel também referiu muito claramente que deve haver regras". Diz Mónica Dias, "não estamos perante a Madre Teresa de Calcutá, nem é essa a imagem que a chanceler quer".