As autoridades angolanas estão a perseguir o Islão e ordenaram o fecho das mesquitas existentes, algumas das quais foram mesmo destruídas, acusou, em declarações à Lusa, o imã David Já, presidente da Comunidade Islâmica de Angola (COIA).
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Jurista, de 38 anos, David Já preside à COIA desde 2005, quando as duas associações representativas de muçulmanos angolanos, Comunidade Islâmica de Angola (CISLANG) e a Comunidade dos Angolanos Crentes Muçulmanos (CACM) se fundiram.
As primeiras mesquitas começaram a ser fechadas em 2006, o que motivou então a intervenção das Nações Unidas, mas as autoridades angolanas mantiveram a pressão.
Segundo David Já, das 70 mesquitas que existiam, espalhadas pelo país, apenas cerca de 20 continuam abertas, a maior parte das quais na província de Luanda, mas com a ameaça de a qualquer momento serem obrigadas a fechar e os crentes que nelas rezam a sujeitarem-se a serem acusados do crime de desobediência qualificada.
«Em todas as províncias as mesquitas começaram a ser fechadas, até 2010. Por exemplo, queimaram uma mesquita no Huambo (centro do país), queimaram o Alcorão. São coisas sensíveis», lamentou.
Em 2011 e 2012 o encerramento das mesquitas parou, mas a partir deste ano intensificou-se com David Já a classificar os atos como «intolerância religiosa» e «violação dos direitos humanos».
Formada maioritariamente por muçulmanos provenientes da África Ocidental e angolanos convertidos, a comunidade islâmica, que sente a falta de espaços para rezar, totaliza entre 800 mil e 900 mil fiéis, segundo David Já.
Questionado sobre o que tenciona fazer, David Já confessa-se «triste» e «desanimado» e responde: «Vamos fazer o quê? O que nós queremos é que haja respeito dos direitos humanos. É só isso».
«Os direitos humanos são uma garantia constitucional. Nós existimos aqui há bastante tempo, nunca houve qualquer ato ilegítimo contra o interesse legítimo do estado», argumentou.
A legislação angolana sobre o exercício da religião em Angola, de 2004, exige que seja feito registo junto do Ministério da Justiça, provando a existência mínima de 10 mil fiéis e a presença em dois terços do país.
No final de outubro, o Ministério da Justiça indeferiu os registos apresentados por 194 organizações religiosas, entre as quais a COIA.
Sobre o que está por trás desta situação, David Já responde não ser «omnisciente», mas junta todos os pontos e destaca recentes posições expostas através da imprensa estatal pela hierarquia da igreja Católica.
«Eu não sou omnisciente, mas a convivência é que nos dá algum indicador disto. Repare, A Igreja Católica disse que não quer o Islão e logo de seguida o governo começa a agir e apresenta algum motivo, se muçulmano quiser rezar, vai ser preso. (a nossa religião) É posta como se fosse uma seita», respondeu.
David Já acredita que convivência e defende que tanto cristãos como muçulmanos têm que viver em harmonia: «É isso que nós queremos e construir o nosso país de uma forma livre e justa. Que não se crie ódio. Temos que aceitar a diferença do outro».
O governo angolano ainda não comentou as notícias sobre a proibição do culto do Islão no país e tem atualmente registados 83 cultos ou igrejas, enquanto cerca de 1200 confissões religiosas aguardam reconhecimento governamental.