Reportagem TSF em Luanda. Angolanos pedem ajuda divina para dia 24
A três dias das eleições gerais, as igrejas cristãs de Angola viraram-se para o alto. Juntaram dezenas de milhares de fiéis no estádio onde treina a seleção nacional de futebol para rezar, cantar e dançar. Compareceram três candidatos, um deles como Presidente.
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Foi tanta a fé a mover os angolanos que pouco antes da hora marcada para o culto ecuménico, já não se avançava um milímetro na via expresso, ao lado do Estádio 11 de Novembro.
Não houve outro remédio que não apear os crentes e lançá-los ao caminho, a pé, pela poeira, nas bermas estreitas da estrada. O único consolo foi parecerem recordistas de velocidade quando comparados com a quietude de tanta chapa e motor.
De roupa domingueira, com brincos e colar, se não de ouro, pelo menos dourados, coincidiu, a determinada altura, caminharmos ao lado de Felicidade. "Serva de Deus", identifica-se, a acertar o passo apressado com o seu grupo da Igreja do Bom Deus.
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Sorri sempre, a Felicidade. Explica que a sua igreja "é das poucas escolhidas para falar no púlpito: uma honra!" E que tem para dizer? "Vamos pedir ao Senhor o cuidado com o nosso povo. Ele sabe como se faz a paz."
Felicidade coloca o desfecho das eleições gerais de dia 24 nas mãos do seu Deus, "o Senhor vai tratar, o Senhor ama Angola", mas nem por isso deixa de exercer um direito terreno. "Vou votar, sim", e, sem acrescentar nem dar espaço para acrescentarmos mais nada, sorri ainda mais.
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Uma meia hora mais tarde perdemos Felicidade entre dezenas de milhares de pessoas.
É uma enorme confusão fazer entrar tanta gente no recinto que leva 4800 almas. Pórticos de segurança, detetores de metais, cartão de identificação da igreja ou da província de origem e, claro, mil e uma exigências de acreditação (uma espécie de vício nacional em papéis e poderes e cartões para pendurar ao pescoço, uns por cima dos outros).
Pelas 11h00 já ia estando tudo acomodado, em manchas de gente nas bancas do estádio: manchas brancas, amarelas, verdes, púrpura e de tantas outras cores nunca vistas, consoante a incidência do sol e a farda da banda ou do culto.
Seria normal já haver gente cansada depois de horas de canto e dança no mesmo lugar. Nada.
João Lourenço chegou acompanhado pela mulher, em traje tradicional, e teve honras de apresentação no som do estádio e a um aplauso generalizado.
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Não houve como separar o Presidente do candidato que já deu a campanha eleitoral por terminada e do secretário-geral do MPLA.
Um dos sacerdotes que subiu ao palco, a fazer as vezes de púlpito gigantesco, pediu a determinada altura que se levantassem os políticos no estádio.
Junto ao relvado houve quatro homens que se puseram de pé: o candidato do MPLA, o candidato da CASA CE, um representante da UNITA e outro... De negro, com uma mala negra na mão.
Afinal, o "quarto político" era um dos homens do Presidente, um segurança que, por sinal, nunca se tinha sentado, e que carregava como estátua o estojo onde terá o escudo e algumas armas com que poderia reagir (sabe-se lá, nunca foram usadas) em caso de atentado à vida de João Lourenço.
