Irmgard Furchner trabalhava como secretária e estenógrafa no campo de extermínio nazi de Stutthof, na Polónia.
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Uma mulher de 97 anos foi esta terça-feira condenada a dois anos de prisão com pena suspensa por responsabilidade no holocausto nazi.
Imgard Furchner começou a trabalhar aos 18 anos como secretária e estenógrafa no campo de extermínio Stutthof, na Polónia. Esteve ao serviço no campo entre 1943 e 1945.
Estava a ser julgada por cumplicidade na morte de dez mil pessoas - entre judeus e prisioneiros polacos e soviéticos - desde o ano passado. A sentença do tribunal de Itzehoe corresponde ao pedido do Ministério Público alemão, que tinha sublinhado o "significado histórico excecional" do julgamento de Irmgard Furchner, com uma sentença "simbólica".
Imgard Furchner é a primeira mulher julgada por crimes praticados pelo regime nazi. Durante todo o julgamento, a mulher de 97 anos esteve em silêncio, tendo-o quebrado numa das últimas sessões apenas para lamentar tudo o que se tinha passado.
"Sinto muito o que aconteceu. Lamento ter estado em Stutthof nessa altura", disse.
Antes de o julgamento começar, a mulher tentou escapar a uma ordem de detenção e chegou mesmo a fugir durante várias horas do lar onde vive.
Na altura dos factos, Furchner tinha 18 anos de idade e trabalhava como datilógrafa e como secretária do comandante do campo, Paul Werner Hoppe, ocupando uma posição com "significado" no sistema desumano do complexo, disse a procuradora Maxi Wantzen durante o julgamento.
Os advogados pediram a absolvição, argumentando que não tinha sido provado que a antiga secretária tivesse conhecimento dos assassínios em Stutthof.
Devido à idade na altura dos crimes, Irmgard Furchner foi julgada perante um tribunal especial para jovens.
Em Stutthof, um campo de concentração situado perto de Gdansk (Danzig na altura), calcula-se que 65 mil pessoas tenham sido sistematicamente assassinadas, entre prisioneiros judeus, elementos da resistência polaca e prisioneiros de guerra soviéticos.
Durante o julgamento, vários sobreviventes prestaram testemunho, acreditando, segundo o procurador, que "tinham o dever de falar, mesmo que tivessem de superar a dor para o fazer".
Os prisioneiros viviam em condições desumanas, concebidas para os fazer morrer lentamente.
A maioria dos prisioneiros morreu de fome, sede, doenças como o tifo, e exaustão devido aos trabalhos forçados.
Para executar os prisioneiros considerados fisicamente "mais fracos", o campo dispunha de câmaras de gás.
Segundo a procuradora, os crimes cometidos durante o nazismo não teriam sido possíveis sem o sistema burocrático do qual Furchner fazia parte, "gozando da confiança do comandante e mantendo acesso a todos os documentos considerados confidenciais".
A Segunda Guerra Mundial (1939-1945) terminou há 77 anos, mas a Alemanha continua a procurar antigos criminosos nazis ainda vivos para os levar a julgamento.
Muito poucas mulheres envolvidas em crimes nazis foram processadas depois de 1945: Traudl Junge, a secretária privada de Adolf Hitler nunca foi processada e morreu em 2002.
A jurisprudência após a condenação em 2011 de John Demjanjuk, guarda do campo de concentração de Sobibor a cinco anos de prisão efetiva permite atualmente acusar de cumplicidade, por milhares de assassínios, qualquer funcionário dos complexos de extermínio: do guarda ao contabilista.
No passado mês de junho, um antigo guarda do campo de concentração de Sachsenhausen (norte de Berlim), de 101 anos, foi condenado a cinco anos de prisão.