Deu-lhe aulas de holandês, em Molenbeek, e lembra que procurou salientar a importância da tolerância perante o preconceito. Xavier Kabomgo conversou com a TSF em Bruxelas, no bairro onde vivia Salah Abdeslam, procurado pela polícia por causa dos atentados de Paris.
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Quinta-feira é dia de mercado em Molenbeek e todos os caminhos parecem desembocar na Praça do Município.
As dezenas de tendas montadas têm fama de venderem os produtos mais baratos da cidade de Bruxelas. Há cores vibrantes de frutas, vegetais e especiarias, e queijos das mais variadas formas e tamanhos.
A escassos metros da Praça do Município, em frente a um multibanco, forma-se uma fila de mais de 10 pessoas. Esperam para levantar dinheiro. A dependência do banco Paris Bas Fortis tem, lá dentro, 5 caixas, mas está encerrada. A única disponível fica na rua. Molenbeek de baixo, o bairro está dividido em dois, baixo e cima, tem cerca de 26 mil habitantes. Para essas pessoas existem três multibancos disponíveis.
Em frente à dependência o Partido dos Trabalhadores da Bélgica montou uma banca para recolher assinaturas a reclamar a reabertura. Um homem segura um cartaz que reclama "Serviços de proximidade para os habitantes de Molenbeek de baixo".
Chama-se Xavier Kabomgo. Passados alguns minutos de conversa entra no diálogo o nome do homem mais procurado na Europa depois dos ataques terroristas de Paris: Salah Abdeslam. E há uma revelação inesperada: "Fui professor de holandês do Abdeslam aqui, em Serge Creuz há 10 anos.
Fiquei chocado, evidentemente, de ver a cara dele... e reconheci-o logo."
Apesar da distância temporal, Xavier lembra-se de uma atividade que organizou. E que contraria tudo o que aconteceu, uma década depois.
"Decidi naquela altura de fazer uma abordagem da língua numa perspetiva mais cultural e ir com essa turma... a turma do Abdeslam, um grupo calmo e simpático, de ir com eles a uma exposição sobre os preconceitos e a tolerância organizada por uma associação flamenga que se chama Foyer.
Então eu fui com o Abdeslam e a turma dele a uma exposição que falava de intolerância e de preconceitos. O objetivo era fazer ver a estes alunos, a estes jovens que são de bairros desfavorecidos e que são vitimas de preconceito e de intolerância, fazê-los ver que isso passa-se em todo o lado. Que há intolerância e preconceitos em todos os grupos sociais, étnicos e nacionais."
Por isso Xavier Kabomgo sublinha a estranheza de ver o antigo aluno "cair nisto", falando em "morte e barbárie".
O antigo professor de holandês de Salah Abdeslam diz que nunca mais se cruzou com ele. "Não, não, de todo. Nunca mais estive com ele."