O secretário-geral da ONU exige que "a escalada seja interrompida" perante a tensão entre Washington e Teerão.
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O secretário-geral da ONU, António Guterres, pediu hoje para que "a escalada seja interrompida, máxima moderação seja exercida, o diálogo seja retomado e a cooperação internacional seja renovada", perante as tensões no Médio Oriente.
Após os ataques dos EUA no Iraque e probabilidade de uma retaliação pelo Irão, Guterres disse, numa declaração de urgência, que não se deve esquecer que são "as pessoas comuns" quem paga os "custos terríveis" e o preço mais alto, nos conflitos.
"É nosso dever comum evitar esses custos", disse o secretário-geral da ONU, acrescentando que "nem sequer a não proliferação nuclear pode ser dada como certa".
Guterres disse que tem estado em contacto permanente com os líderes mundiais e que as escaladas de tensões fazem com que cada vez mais países tomem "decisões imprevisíveis, com consequências imprevisíveis e um profundo risco de cometer erros de cálculo".
Para o secretário-geral da ONU, o ano de 2020 começou com o mundo em "agitação" e com "tempos perigosos, com tensões geopolíticas ao mais alto nível (...) com distúrbios constantes".
Guterres diz que a todo este ambiente se deve adicionar os conflitos comerciais e tecnológicos que causam ruturas nos mercados globais, minam o crescimento e aumentam as desigualdades.
"Enquanto isso, o nosso planeta está a pegar fogo e a crise climática intensifica-se", escreveu o secretário-geral da ONU, numa referência aos fogos na Austrália.
Guterres também mencionou a frustração que toma conta de muitas pessoas, "no meio de um aumento da agitação social e de crescente radicalização, acompanhada de extremismos e nacionalismos, bem como do avanço do terrorismo, especialmente no continente africano".
A declaração de urgência do secretário-geral da ONU acontece depois de a França, o Reino Unido e a Alemanha terem instado o Irão a "retomar os compromissos" do acordo nuclear de 2015, que Teerão anunciou deixar de cumprir, como retaliação pelos ataques norte-americanos.
O general Qassem Soleimani, comandante da força de elite iraniana Al-Quds, morreu na sexta-feira num ataque aéreo contra o carro em que seguia, junto ao aeroporto internacional de Bagdad, ordenado pelo Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
O ataque ocorreu três dias depois de um assalto inédito à embaixada norte-americana que durou dois dias e apenas terminou quando Trump anunciou o envio de mais 750 soldados para o Médio Oriente.
O Irão prometeu vingança e anunciou no domingo que deixará de respeitar os limites impostos pelo tratado nuclear assinado em 2015 com os cinco países com assento no Conselho de Segurança das Nações Unidas --- Rússia, França, Reino Unido, China e EUA --- mais a Alemanha, e que visava restringir a capacidade iraniana de desenvolvimento de armas nucleares. Os Estados Unidos abandonaram o acordo em maio de 2018.
No Iraque, o parlamento aprovou uma resolução em que pede ao Governo para rasgar o acordo com os EUA, estabelecido em 2016, no qual Washington se compromete a ajudar na luta contra o grupo 'jihadista' Estado Islâmico e que justifica a presença de cerca de 5.200 militares norte-americanos no território iraquiano.