Do ponto de vista tático, Moscovo podia ter afirmado há 15 dias que já controlava a cidade ucraniana, afirma o major-general Arnaut Moreira. Objetivo será moralizar as tropas.
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A Rússia anunciou esta manhã que já controla toda a cidade de Mariupol, à exceção da siderúrgica Azovstal, mas para o major-general Arnaut Moreira, especialista em geopolítica e geoestratégia, trata-se, sobretudo, de uma estratégia de comunicação.
"A declaração da tomada de Mariupol, do ponto de vista tático, tanto podia ter sido feita hoje como há 15 dias", aponta Arnaut Moreira, em declarações à TSF. Apesar de a força de resistência ainda não ter sido subjugada, "a Rússia terá considerado eu este era o momento adequado para moralizar e dar ímpeto à ofensiva no Dunbass que decorre devagarinho".
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A tomada de Mariupol, -- "o controlo total não está conseguido, mas uma parte significativa da resistência está a desaparecer" -- permite à Rússia libertar tropas que estavam encurraladas na cidade portuária.
"São forças que voltam a estar disponíveis" para outras zonas de combate, explica Arnaut Moreira, ainda que sem a energia de novas tropas, devido ao desgaste provocado por várias semanas de confronto.
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Luís Tomé, diretor do Observare (Observatório de Relações Exteriores) e professor de Relações Internacionais na Universidade Autónoma de Lisboa, lembra que para eliminar o batalhão resistente de Azovstal a Rússia teria de matar cerca de mil civis, incluindo mulheres e crianças e muitos russos ou russófilos.
"Uma tentativa para definitivamente conquistar Azovstal não só resultaria num banho de sangue de dois mil militares ucranianos mas, certamente, também de civis, o que iria degradar ainda mais a imagem da Rússia."
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Sobre o discurso de Volodymyr Zelensky, esta tarde no Parlamento português, o major-general espera um discurso "emotivo" e voltado para as pessoas.
Esta não é uma mensagem destinada apenas aos portugueses, lembra Arnaut Moreira, é uma mensagem de apelo ao apoio à Ucrânia dirigida a todo mundo.
Tendo em conta a proximidade do 25 de Abril, Luís Tomé considera provável que Zelensky faça uma referência à revolução dos cravos "para falar da liberdade e conquista da democracia".
Por outro lado, sendo Portugal um dos países fundadores da NATO, o Presidente ucraniano deverá fazer um apelo pelo envio de mais equipamento militar.
"E muito provavelmente fará uma crítica (...) à posição de Portugal mais reticente à entrada da Ucrânia na União Europeia", antecipa o diretor do Observare.