Ao todo foram 355 dias longe da Terra, mas os norte-americanos ainda estão a 82 dias do recorde global que é da Rússia. O geofísico Rui Moura, em entrevista à TSF, considera "natural" que a marca seja ultrapassada, até porque o conhecimento médico é cada vez maior.
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Chegou esta manhã ao Cazaquistão a missão astronauta que fixou um novo recorde de tempo norte-americano no espaço. Ao todo foram 355 dias longe da Terra e uma guerra na Ucrânia a começar entretanto. O conflito levou a sanções ocidentais à Rússia e a missão espacial, que é marcada pela colaboração russa e norte-americana, chegou a estar em perigo. Ameaças à parte, a missão foi concluída com sucesso.
A bordo de uma nave de Moscovo estiveram os russos Anton Shkaplerov e Pyotr Dubrov, de 50 e 44 anos, respetivamente, e o norte-americano Mark Vende Hei, de 55 anos. O astronauta foi responsável por estar 355 dias no espaço e atingir uma nova marca interna. A anterior pertencia a Scoot Kelly e Mikhail Kornienko. Juntos fixaram um recorde de 340 dias.
Apesar do número de dias no espaço poder surpreender, o recorde ainda pertence à Rússia. Até hoje nunca ninguém esteve tanto tempo no espaço como o astronauta Valeri Polyakov. Ao todo foram 437 dias no espaço, um recorde atingido em 1995.
Em entrevista à TSF, o geofísico Rui Moura afirma que o mais "natural é que a marca volte a ser atingida". Até agora não foi feito porque "há que gerir as missões e as experiências que estão agora a fazer com uma nova geração de conhecimento médico. Estão a aumentar o tempo de permanência contínua no espaço".
O limite humano continua a ser o grande desafio e o geofísico afirma que "estas experiências são sempre no sentido de perceber quais os efeitos sobre o corpo humano. As consequências de retirar a condição de gravidade".
Os efeitos sobre o corpo são mais que muitos, desde a parte óssea até ao coração. Este órgão, por exemplo, "fica mais pequeno porque, como não há gravidade, não é preciso bombear tanto sangue". Quando o astronauta chega à Terra, o seu corpo pode demorar até um ano para ficar num estado normal e é um processo que fica marcado por "tonturas e dores". Ainda assim, Rui Moura esclarece que "há partes do corpo que nunca se adaptam ao espaço, como resistir à radiação e a densidade de massa óssea". "No espaço estamos sempre a perder massa óssea, independentemente de haver ou não exercício físico", adianta.
A missão que chegou ao fim esta quarta-feira chegou a estar em perigo por causa da guerra na Ucrânia. As sanções ocidentais à Rússia colocara em xeque a cooperação que existe no espaço entre os dois países há vários anos, mas pelo menos nesta missão tudo correu bem. "As pessoas que trabalham na Roscosmos, no treino dos cosmonautas, neles próprios, normalmente trabalham para princípios superiores aos da política e são pessoas com uma grande vontade de cooperar e em conjunto resolver problemas (...). Normalmente o espaço fornece uma perspetiva da terra menos egoísta e as pessoas tornam-se cidadãos da terra e menos dos países", esclarece.
O chefe da agência russa alertou no inicio do mês que as sanções podiam causar problemas técnicos à missão que hoje terminou. A NASA, em sentido contrário, garantiu que o astronauta Mark Vande Hei ia mesmo regressar e numa aeronave russa.