Apreensão de cocaína na Europa atinge "níveis recorde". Distribuição é "cada vez mais digitalizada"
A Comissão Europeia divulgou o relatório anual do Observatório Europeu da Droga e Toxicodependência, no qual aponta a internet e as apps como instrumentos de tráfico.
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Perante os dados que apontam para novos recordes de consumo, mas também ao nível das apreensões, o comissário europeu, para as Migrações, Assuntos Internos e Cidadania, Dimitris Avramopoulos aponta um cenário "preocupante", com uma nova realidade tecnológica no mundo do tráfico de droga.
"A distribuição de droga está cada vez mais digitalizada, com novos canais de distribuição a surgirem, incluindo através da internet, redes sociais, ou através de aplicações de mensagens codificadas", destacou o comissário, reconhecendo o problema criado por "estes desenvolvimentos tecnológicos, explorados pelos traficantes", uma vez que "tornam o combate às drogas mais difícil".
O relatório aponta a cocaína como um dos problemas principais das autoridades. As apreensões em 2017 ultrapassaram as 140 toneladas, representando quase o dobro das apreensões no ano anterior.
Avramopoulos aponta, porém, mais fatores de preocupação. "A heroína é um opiáceo ilícito comum, no mercado na Europa, em que os consumidores estão a aumentar. Ao nível da canábis, o relatório mostra que, no ano de 2017, por exemplo, cerca de 18 milhões de europeus experimentaram esta droga. E, cerca de 1% dos adultos europeus consomem-na numa base diária ou quase diária", exemplifica o comissário.
O documento agora divulgado descreve a Europa como um "importante mercado para as drogas, tanto as produzidas a nível interno, como as traficadas a partir de outras regiões do mundo", apontando as mais diversas origens para a droga que chega ao espaço europeu.
"A América do Sul, a Ásia Ocidental e o norte de África são origem de grande parte das drogas ilícitas que entram na Europa, sendo a China um importante país de origem de novas substâncias psicoativas", pode ler-se no documento, em que se salienta que "algumas drogas e substâncias precursoras transitam para outros continentes através do continente europeu".
"A Europa é igualmente uma região produtora de canábis e de drogas sintéticas: a primeira é sobretudo produzida para consumo local, enquanto certas drogas sintéticas se destinam à exportação para outras partes do mundo".
O documento reporta ainda a preocupação das autoridades face ao aumento do consumo de drogas sintéticas, que também encontram o tráfico facilitado através da internet. Este ano, o relatório integra 55 novas fórmulas, na lista de novas drogas. O número anual de pessoas que procura tratamento situa-se nos 73 mil.
"As doenças infecciosas e a mortalidade e morbidade associadas ao consumo de drogas são os principais danos para a saúde monitorizados de forma sistemática" pelo observatório, salientando que "o consumo de drogas ilícitas contribui para o peso global da doença".
"Os problemas de saúde crónicos e agudos estão associados ao consumo de drogas ilícitas, influenciados ainda por vários fatores como as propriedades das substâncias, a via de administração, a vulnerabilidade individual e o contexto social em que as drogas são consumidas".
Há porém sinais de que cada vez mais países estão a dar atenção ao problema. O documento refere-se a um inquérito recente em que se concluiu que "pelo menos 80% dos países que forneceram dados publicaram algum tipo de diretrizes para apoiar a implementação de práticas de redução da procura e 60% afirmam utilizar normas de qualidade".
"De modo positivo, em comparação com anos anteriores, houve um aumento substancial na proporção de países que agora indicam ter estabelecido diretrizes e normas para as intervenções e instituíram algum tipo de sistema de acreditação para prestação de serviços", pode ler-se.
O documento agrega também os dados relativos às emergências hospitalares, com vista a recolher informações sobre os danos graves relacionados com drogas e o impacto do consumo de drogas na saúde pública na Europa.
Em 2017, os hospitais registaram "7267 casos de urgência", sendo a maioria dos utentes do sexo masculino (76%). Alguns tiveram de ser internados nos cuidados intensivos (6%) ou na unidade de psiquiatria (4%). Entre os casos analisados, "foram registadas 30 mortes em hospital, 17 das quais relacionadas com o consumo de opiáceos".
Notícia atualizada às 12h39