
AFP
No segundo dia de testes, mil pessoas estão convocadas para realizarem o rastreio do vírus que visa detetar assintomáticos e travar a cadeia de contágios.
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Vallecas, um dos bairros mais afetados pela Covid em Madrid, vive esta quarta-feira o segundo dia de testes massivos para a detcção do vírus. Dois mil habitantes da zona foram convocados por sms para realizarem os novos testes rápidos de antígenos que detetam o vírus em 15 minutos, mas para já, apenas um terço dos convocados fizeram o rastreio.
"Este teste tem uma fiabilidade tão alta como uma PCR, ronda os 95% e não é preciso levá-lo ao laboratório, que por muito que o laboratório seja rápido ronda no mínimo as 24 ou 48 horas", explica António Escudero, técnico do Serviço de Urgências Médicas de Madrid.
Os habitantes foram convocados em grupos de 80, por faixas horárias, com prioridade para as pessoas idosas e com problemas crónicos. Depois de medirem a temperatura e lavarem as mãos com álcool gel, as pessoas passam à zona de realização dos testes. Recolhe-se uma amostra da nasofaringe com uma zaragatoa que depois se mistura com um reagente. Finalmente deposita-se a amostra na placa de controlo e pouco tempo depois recebe-se o resultado.
"São parecidos com os testes de gravidez. Depois de fazer o teste aparece uma barra de controlo na placa, o que indica que é negativo. Se aparecer uma segunda barra, o resultado é positivo e nesse caso "receita-se" o isolamento domiciliário e começa-se o rastreio de contactos", diz Escudero.
À porta do centro Cultural Lope de Vega, onde se fizeram os rastreios, houve durante todo o día pouca afluência. Das mil pessoas convocadas esta terça-feira, só pouco mais de 300 compareceram e só foram detetados dois positivos. Entre os que fizeram os testes as opiniões dividem-se.
"Na verdade, não pensava vir. Porque como nos podemos contagiar em qualquer momento, se calhar fizeram-mo, e agora dá negativo mas daqui a pouco já pode dar positivo... não sei se vale a pena. Incomoda um bocadinho mas não chega a doer", diz Ana Pérez.
"Acho que é muito importante porque com o teste temos uma segurança de quem o tem ou não. Não percebo porque é que vem tão pouca gente. Por eles e pelas famílias, devia vir toda a gente", conta Dionisio García, de 76 anos. Dionísio tem cinco filhos e 12 netos. Desde março, quando a pandemia estalou na capital espanhola, os contactos têm sido poucos e sempre à distância. "Vemo-nos no parque, sem nos tocarmos e mantendo a distância por precaução. Espero que os testes ajudem a controlar a pandemia e possamos voltar ao normal o mais depressa possível".
Apesar do número de participantes ter ficado muito aquém do pretendido também houve quem aparecesse por iniciativa própria para fazer o teste. "Vim porque sou parte de grupo de risco, tive cancro e agora cuido dos meus sogros com o meu marido, são pessoas idosas e eu não sei se sou assintomática ou não e gostava de saber", diz Isabel Díaz, de 62 anos.
Entre os habitantes do bairro, percebe-se ainda o desconforto pela decisão da Comunidade de Madrid de confinar apenas alguns bairros da capital. No total, há 47 zonas com restrições de mobilidade e quase todas coincidem com os bairros mais humildes da capital. "É uma vergonha. A nós confinam-nos porque somos pobres, noutros bairros não têm coragem de o fazer ", diz Rosa Maria, à saída do centro Cultural. Na mão, o resultado do teste: "Negativo", diz com alívio. Dionísio lamenta que a medida sirva para "discriminar os bairros mais humildes. "Parece que a culpa do vírus é nossa", queixa-se. "Madrid está a fazer tudo mal, isto é como pôr um penso rápido numa ferida profunda. Não vai servir de nada. E por isso os contágios não param de crescer", considera Isabel Díaz.
Esta quarta-feira, mais mil pessoas estão convocadas para uma nova ronda de testes. Nos próximos dias, a iniciativa vai estender-se a outras zonas da cidade com alta incidência do vírus numa tentativa de detetar cada vez mais assintomáticos e quebrar, a cadeia de contágios.
Braço de ferro com o Governo
Nas últimas horas, o protocolo de testes voltou a mudar e a Comunidade de Madrid, numa medida que provocou muitas críticas por parte dos profissionais de saúde, decidiu deixar de fazer testes aos contactos próximos assintomáticos dos casos positivos. A partir de agora, o rastreio inclui apenas as pessoas que vivam na mesma casa, pessoas com patologias prévias, pessoas que cuidem de pessoas vulneráveis, ou que apresentem sintomas. Os assintomáticos que não cumpram estes critérios, mesmo que tenham estado em contacto com um positivo, não terão direito a teste.
Este é mais um episódio do braço de ferro protagonizado pelo Governo e a Comunidade de Madrid nas últimas semanas. O ministro da Saúde, Salvador Illa, tem insistido na necessidade de aplicar as mesmas restrições a toda a região para conter os contágios, medidas que a presidente da Comunidade, Isabel Díaz Ayuso, se negou a adotar. Esta terça-feira depois de mais uma reunião, Governo e Comunidade chegavam a acordo para a aplicação das mesmas medidas restritivas - que serão definidas ao longo do dia de hoje - em todas as cidades com mais de 100.000 habitantes e uma situação epidemiológica com três características: Uma incidência superior a 500 casos por cada 100.000 habitantes em 14 días; mais de 10% de positivos e mais de 35% das Unidades de Cuidados Intensivos ocupadas. Na prática, neste momento, só Madrid cumpre estes requisitos.