Fernando Nobre, presidente da Assistência Médica Internacional, acredita que há cada vez mais casos em que as associações ocidentais são "responsabilizadas" por conflitos e guerras. E, por isso, o auxílio demora cada vez mais a chegar a quem precisa.
Corpo do artigo
No dia seguinte ao terramoto que matou mais de 300 pessoas no Paquistão, no Afeganistão e na Índia, Fernando Nobre traça na TSF um retrato da região atingida. O presidente da AMI esteve no Paquistão, em 2005, altura em que um terramoto matou vários milhares de pessoas.
Fernando Nobre diz que se trata de uma região "difícil, muito montanhosa", em que "as derrocadas provocadas por um sismo", afetam de imediato todas as infraestruturas e comprometem os acessos - e o auxílio - às populações das aldeias mais longínquas.
Embora não se trate de uma região densamente povoada, o responsável da organização portuguesa sublinha que os primeiros socorros têm de ser levados de helicóptero, até que o exército entre em cena, para reconstruir estradas, pontes e outros acessos.
O presidente da AMI levanta ainda questões de segurança, nomeadamente, no Afeganistão. "Não estamos longe do complexo montanhoso de Tora Bora", no leste do Afeganistão, zona de domínio taliban. Uma situação que pesa na decisão das organizações humanitárias, quando decidem avançar para o terreno.
Fernando Nobre sublinha também que há vários locais do mundo, "como a Síria, o Iraque ou mesmo o Iémen", onde as associações humanitárias ocidentais são "cada vez menos bem-vindas".
Isto porque são "associadas a um domínio ocidental" e "igualmente responsabilizadas" pelas guerras e conflitos nesses locais.
O presidente da AMI revela ainda que a organização não vai viajar para a zona atingida pelo sismo de segunda-feira. Fernando Nobre considera que, por agora, essa viagem não se justifica, e sublinha que os contactos locais que tem no terreno, permitem toda a ajuda necessária.