Ataque ao Irão? “Não creio que o que os EUA fizeram vá contra o direito internacional”
O secretário-geral da NATO anuncia que os aliados vão acordar um novo referencial comum de 5% do PIB para a Defesa
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Na véspera da cimeira da NATO, o secretário-geral da Aliança Atlântica, Mark Rutte, adiantou, esta segunda-feira, que o debate sobre o Irão estará “inevitavelmente” na agenda da Cimeira da NATO, que decorre de terça a quarta-feira, em Haia, nos Países Baixos. Questionado a propósito do ataque norte-americano a bases nucleares iranianas, Rutte respondeu que “não há dúvida de que o Irão surgirá nas discussões”.
“O Irão está fortemente envolvido na guerra da Rússia contra a Ucrânia, por exemplo, através da entrega de drones que estão a matar diariamente ucranianos inocentes, em cidades e comunidades, sem qualquer respeito pela vida”, salientou Rutte, justificando a pertinência de um debate sobre o Irão, no âmbito da Aliança Atlântica. "Existe uma ligação estreita entre o Irão, a Coreia do Norte, a China, a Bielorrússia e a Rússia, no que diz respeito à guerra na Ucrânia", acrescentou.
Questionado sobre se a NATO não estaria a adotar uma posição incoerente, ao criticar a Rússia por violar o direito internacional na Ucrânia, mas não os Estados Unidos pelas suas ações no Irão, o secretário-geral rejeitou a ideia.
“Não concordo nada com essa avaliação (...) penso que está completamente enganado”, respondeu, frisando que “não concordaria aquilo que os Estados Unidos fizeram vá contra o direito internacional”.
Apontando o risco de uma escalada nuclear, Mark Rutte referiu que o seu “maior receio seria que o Irão possuísse, usasse e fosse capaz de mobilizar uma arma nuclear”, pois "seria um estrangulamento para Israel, para toda a região e para outras partes do mundo”.
"A NATO tem sido clara: o Irão não deve ter acesso a uma arma nuclear. Esta é uma posição constante da Aliança", sublinhou ainda.
Despesa
Entre as prioridades da cimeira está o aumento do investimento em Defesa. O secretário-geral anunciou que os aliados vão acordar um novo referencial comum de 5% do PIB, considerando tratar-se um “salto histórico, ambicioso e fundamental para a segurança”.
O plano inclui, entre outras medidas, um aumento de “cinco vezes nas capacidades de defesa antiaérea, milhares de tanques e viaturas blindadas, bem como milhões de munições de artilharia”, detalhou o secretário-geral da NATO, frisando que também prevista uma cooperação reforçada com a indústria da Defesa. "Não há atualmente capacidade de produção suficiente para satisfazer a procura", afirmou.
Exceção
Apesar do novo referencial de 5%, Mark Rutte referiu que foi admitida uma situação de exceção relativamente à Espanha. Todos os aliados aprovaram os objetivos de capacidades definidos, sendo que, no caso de Espanha, o governo de Pedro Sanchez considera que será possível de atingir os mesmos objetivos, investindo 2,1% do PIB. "A NATO está convicta de que será necessário atingir os 3,5%", afirmou.
“Cada país irá reportar anualmente os seus progressos e haverá uma revisão em 2029", frisou, detalhando que não há acordos paralelos nem mecanismos de exclusão. "A NATO não tem opt-outs”, sublinhou.
Rússia
A ameaça russa permanece no centro da preocupação da NATO. De acordo com Mark Rutte, “se a Rússia atacasse hoje, a reação seria devastadora, e Moscovo sabe disso”. Contudo, alertou para o cenário a médio prazo, admitindo que “entre três e sete anos, se não investirmos mais, a Rússia poderá voltar a ter capacidade para nos atacar”. No entanto, garantiu que "os planos de defesa estão em vigor, as estruturas estão definidas e há um sistema de comando preparado para escalar a resposta”. “Defenderemos cada centímetro do território da NATO", garantiu.
Ucrânia
Rutte afirmou que a Ucrânia mantém como prioritária, admitindo que os aliados europeus e o Canadá forneçam este ano mais de 35 mil milhões de euros em apoio à Ucrânia, muito além da previsão inicial de 20 mil milhões de euros.
"Queremos paz para o povo ucraniano, mas enquanto ela não chega, temos de garantir que a Ucrânia tem meios para se defender hoje e dissuadir no futuro", sublinhou Rutte, reiterando que "a Ucrânia tem um caminho irreversível para a adesão à NATO".
China
O secretário-geral da NATO deixou entender a preocupação face à China, salientando que deverá reunir “450 navios de guerra e mil ogivas nucleares até 2030”. "Estamos muito atentos ao que está a acontecer na região do Indo-Pacífico. O nosso relacionamento com Japão, Coreia do Sul, Austrália e Nova Zelândia é essencial", frisou, acrescentando que, em caso de conflito em Taiwan, "não há dúvida de que a China chamará o seu parceiro júnior, Putin, para nos manter ocupados na Europa”. Por essa razão, insistiu que “é essencial aumentar a despesa” em Defesa e manter a unidade na Aliança.