Na Cimeira da Democracia, que termina esta quarta-feira em Copenhaga, três ativistas contaram as experiências que tiveram e os casos que conhece
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A repressão transnacional é hoje uma das maiores ameaças aos ativistas pró-democracia que vivem no exílio. Os primeiros casos de dissidentes atacados no estrangeiro remontam aos anos 70, mas neste século, com as novas tecnologias e os regimes autocráticos, redobraram os ataques.
Na Cimeira da Democracia, que termina esta quarta-feira em Copenhaga, três ativistas contaram as experiências que tiveram e os casos que conhecem. Jeffrey Ngo, que está ligado ao Movimento Pró-Democracia Hong Kong, ia participar no evento como espectador, mas uma ação do regime chinês contra uma colega levou-o a ser um dos protagonistas do debate.
"A Anna devia estar aqui, mas recebeu a notícia de que o pai e o irmão tinham sido presos. O irmão pagou a fiança e foi libertado. O pai continua detido. Isto é uma tática habitual do Governo chinês, mas para Hong Kong isto é uma grande escalada", defende.
Jeffrey Ngo garante que, até agora, os ativistas de Hong Kong no exterior estavam relativamente seguros, mas o ataque começou e com várias estratégias.
"Os vizinhos têm recebido cartas anónimas com a fotografia dela, o endereço e a dizer que, se a virem, a mandem à embaixada chinesa. Esta é a realidade vivida pelas pessoas com quem trabalho, pelos meus amigos. Todos os dias. Por isso é preciso que os Governos democráticos combatam a repressão transnacional", apela.
Carine Kanimba tornou-se ativista quando o pai, Paul Rusesabagina, foi raptado no Dubai e levado para o Ruanda, onde foi julgado e condenado por terrorismo. Quando lutava pela libertação dele, foi alvo do sistema de espionagem israelita Pegasus, uma experiência assustadora.
"Imagine que está ao telefone na sala, em casa, a falar com a família e, de repente, alguém que está a sete mil quilómetros de distância liga-se ao microfone e ouve tudo o que está a dizer. Liga a câmara e observa sem que se aperceba. Vê todos os que estão à sua volta. Vê o seu GPS e sabe exatamente onde está", conta.
Uma situação que minou a confiança entre os ativistas e dificultou o trabalho. Já Leopoldo Lopez, um dos líderes da oposição venezuelana, não tem dúvidas de que os autocratas trabalham juntos e dá o exemplo da iraniana Masih Alinejad.
"Há dois anos estávamos a conversar no zoom quando alguém lhe bateu à porta. Ela decidiu não atender. O homem à porta era da máfia russa, originário do Azerbaijão, e tinha uma espingarda à K-47 e foi detido", denuncia.
Leopoldo Lopez, que esteve sete anos nas prisões de [Nicolás] Maduro, diz que o caso da iraniana mostra claramente a cooperação entre os diversos países.
"Isto foi uma tentativa de assassinato ordenada pelo Irão, que contratou a máfia russa, que subcontratou pessoas para a levarem para a Venezuela e depois para o Irão. Como não conseguiram, mandaram alguém para a matar", explica.
Há muitos outros exemplos, lembra Leopoldo Lopez, que garante que foi por isso que os ativistas criaram o Congresso Mundial da Liberdade: querem combater a cooperação entre os regimes autoritários, lado a lado com outros lutadores pela democracia.