A vigília de apoio aos 15 ativistas detidos desde junho em Angola não se realizou. À porta da igreja de São Domingos a polícia terá levado três pessoas e os outros participantes fugiram.
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Logo à chegada, as primeiras pessoas que pertenciam ao grupo que ia participar na vigília aperceberam-se que havia novamente um forte cordão policial à volta da igreja de São Domingos, em Luanda. Era para este local que estava anunciada uma missa e vigília defendendo a libertação dos 15 ativistas angolanos detidos desde junho, acusados da preparação de um golpe de Estado.
Conforme a agência Lusa constatou no local, o templo encontrava-se, pelas 19:00 (mesma hora em Lisboa), cercado por agentes da Polícia Nacional, por motivos desconhecidos.
Há denúncia de detenções, no local, de alguns ativistas que participavam nesta ação - também em solidariedade com Luaty Beirão, um dos 15 detidos e em greve de fome há 22 dias -, que foram entretanto libertados, segundo a mesma informação, dos organizadores.
A TSF falou com Rui Sérgio Afonso que sublinha que o aparato polícial foi menor do que aquele que ontem pôs foi a outra vigília. O ativista afirma que o número de polícias "não era como o de ontem mas havia alguns carros [...] porque eles já sabiam o que eles queriam. Não havia canhões de água, havia apenas carros policiais e muitos polícias escondidos numa zona escura".
A detenção terá ocorrido pouco depois. "Aquilo foi um movimento muito rápido. mal os agarraram, tinham um carro pronto, meteram-nos dentro do carro e levaram" os três ativistas, explica.
As três pessoas que foram levadas pelas autoridades, já estão em liberdade afirmam os ativistas que deram a notícia.
Rui Sérgio Afonso conta ainda que a polícia as detenções foram feitas às portas da igreja. "Eu na altura estava dentro da igreja e ao princípio comecei a ouvir gritos porque um dos ativistas conseguiu escapar e entrou para dentro da igreja a cantar. Foi quando todos saímos para ver o que se passava é que nós encontramos os três a serem levados".
O ativista explica que houve um momento de pânico e "na altura da detenção as pessoas quase que invadiram a igreja. Não eram muitas ainda, mas correram para dentro da igreja e fecharam-se dentro da igreja."
Este novo incidente surge depois de uma forte mobilização policial no domingo para a igreja da Sagrada Família, também em Luanda, Angola, onde cerca de uma centena de pessoas se concentraram em vigília pelos mesmos motivos, mas que acabaram por pacificamente abandonar o local por recearem a intervenção da polícia, como disseram na altura à Lusa.
Essa desmobilização aconteceu pelas 20:30 de domingo, quando este grupo estava rodeado por dezenas de elementos da Polícia de Intervenção Rápida (PIR), incluindo um camião para lançamento de água já posicionado em frente - com as ruas envolventes cortadas ao trânsito automóvel - além de brigadas caninas, conforme a Lusa constatou no local, num ambiente de muita tensão.
Os participantes, em silêncio, envergavam então peças de roupa branca, velas e cartazes com dizeres apelando à libertação dos 15 jovens e em solidariedade com o "rapper' e ativista angolano Luaty Beirão.
Essa foi a quarta vigília nas escadarias daquela igreja, a principal de Luanda. Contudo, após a mobilização policial de domingo, os participantes tentaram hoje fazer a mesma concentração, em moldes semelhantes, mas na igreja de São Domingos, a poucos quilómetros de distância.
Em causa está a situação de um grupo de 17 jovens - duas em liberdade provisória - acusados formalmente, desde 16 de setembro passado, de prepararem uma rebelião e um atentado contra o Presidente angolano, mas sem que haja uma decisão do tribunal de Luanda sobre a prorrogação da prisão preventiva em que se encontram.
Denunciando que por esse motivo está detido ilegalmente - esgotado o prazo máximo de 90 dias de prisão preventiva sem nova decisão -, Luaty Beirão, ativista, 'rapper' e engenheiro, de 33 anos, entrou em greve de fome, há 22 dias.
A Lusa noticiou, na segunda-feira, o conteúdo do despacho de acusação proferido pelo Ministério Público angolano contra os 17 jovens, alegando que preparavam uma rebelião e um atentado contra o Presidente da República, prevendo barricadas nas ruas e desobediência civil, que estes aprendiam num curso de formação.