O deputado catalão que redigiu a lei que estabelecerá um regime transitório para a independência da Catalunha promete estar ao "lado do governo", a favor de uma "declaração de independência".
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Benet Salellas Vilar considera que "não há outra opção" à proclamação da República independente da Catalunha, justificando esta opção, contrária à vontade de Madrid, com os resultados do referendo de 1 de outubro.
"Tivemos o referendo, nas condições que se conhecem. E, ninguém está a por em cima da mesa qualquer outra posição democrática. Por isso, penso que, se queremos uma discussão em posições iguais com o governo espanhol, precisamos de ser um Estado, uma República catalã", afirmou esta segunda-feira, em declarações registadas pela TSF, no Parlamento da Catalunha.
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Eleito em 2015, pela Candidatura de Unidade Popular, Benet Salellas Vilar tem sido um dos principais promotores da independência e considera que "seria um erro" se o governo de Carles Puigdemont partisse para uma hipotética negociação com Madrid, sem antes ter declarado a independência.
"O que precisamos é de estar ao mesmo nível em que está o reino de Espanha, para discutirmos com eles todas as questões que temos para discutir, sobre a nossa separação. Se não o fizermos, creio que não estaremos a fazer o que a maioria das pessoas na Catalunha querem que façamos. E, [essa] é a razão pela qual fomos eleitos em 2015. Por isso, creio que temos de fazer aquilo que os cidadãos nos pediram para fazer", disse.
Questionado sobre a validade do referendo, tendo em conta a forma como foi realizado e também a dimensão das manifestações do fim de semana, a favor da integridade de Espanha, o advogado redator da lei de transição considera que "os protestos apenas mostram que há pessoas aqui na Catalunha e também pessoas de fora da Catalunha que não concordam".
"Mas, penso que nós, como gente democrática, precisamos de estar com o resultados das eleições e do referendo. É essa a forma que nós temos para saber o que quer a maioria", defendeu.
"Não podemos falar sobre as manifestações, nem sobre quantas pessoas estiveram num dia ou noutro. Mas, podemos dizer que no referendo estiveram 2 milhões de pessoas, que disseram que querem ser independentes e não houve 2 milhões de pessoas a dizerem não no referendo", frisou, considerando que o governo tem poderes legítimos para declarar a independência da Catalunha.
Mas, Benet Salellas Vilar hesita quando questionado sobre a possibilidade do governo suspender a autonomia da Catalunha, para manter a integridade do território.
"Não sei. Espero que isso não aconteça. Espero verdadeiramente que o povo espanhol, onde há uma força muito democrática, trave qualquer tipo de intervenção como a do artigo 155", disse.
A Constituição de 1978 prevê que o executivo central possa interferir para "proteger o interesse geral do país", dando "instruções" ao governo autónomo. Primeiro numa base que pressupõe um mútuo acordo. Mas, se as instruções não forem acolhidas, o Artigo 155 prevê que Madrid possa adotar medidas para "obrigar o cumprimento forçado das obrigações" da região autónoma, em relação à Coroa.
Mas, tal seria entrar num campo desconhecido, uma medida a que nunca utilizada, que muitos consideram arriscada, que não se sabe bem como começa e ninguém sabe como poderia ser revertida. E, Benet Salellas Vilar acredita que nem o poderoso artigo da constituição Espanhola poderá travar a independência da Catalunha.
"Pensamos que se as pessoas querem ter uma República têm o direito de a ter. E, uma maioria, durante muitos anos tem pedido por isso, [então] as pessoas neste país terão uma República. Não haverá tribunal, nem procuradores, nem polícias, nem militares para parar isso... porque o povo é quem mais ordena", garantiu.