As autoridades cubanas detiveram, este domingo, uma destacada dissidente e dezenas de companheiras, enquanto outras levaram a cabo uma marcha semanal em Havana, avançou a Associated Press.
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A polícia deteve Bertha Soler e quatro dezenas de apoiantes do grupo dissidente Damas de Branco, horas antes destas participarem numa marcha regular na Quinta Avenida, no bairro de Miramar em Havana. Cerca de outras 20 mulheres apoiantes do grupo conseguiram chegar ao ponto de partida da marcha, que decorreu sem incidentes.
As detenções foram confirmadas por Angel Moya, marido de Soler e antigo preso político. Moya foi também detido durante um período breve no sábado à noite, indicou o próprio.
O grupo Damas de Branco foi formado em 2003, pouco depois de as autoridades cubanas prenderem 75 intelectuais, ativistas e comentadores sociais, sentenciando-os a longas penas de prisão, numa iniciativa que teve então grande repercussão interna e externa. Todos estes presos políticos foram entretanto libertados e muitos deixaram o país para ao exílio.
Não é claro, de acordo com a AP, se Soler foi entretanto libertada ou quanto tempo irá estar detida. Cuba não tem hoje praticamente presos políticos, mas os grupos de direitos humanos referem que o regime do presidente Raul Castro tem aumentado o recurso a detenções curtas e a outras formas de assédio contra a incipiente oposição interna.
Cuba nega ter presos políticos, qualificando os dissidentes como criminosos comuns e mercenários pagos por Washington para causar problemas. Sobre as detenções de hoje, o governo escusou-se a fazer qualquer comentário, segundo a AP.
As detenções de Soler e das suas companheiras acontecem uma semana antes da visita do papa Bento XVI à ilha, prevista para os próximos dias 26 a 28 de março.
Espera-se que Bento XVI encoraje durante a sua visita o governo de Raul Castro a respeitar os direitos humanos, políticos e religiosos.
Mas a igreja tem merecido algumas críticas, sobretudo face à atuação do cardeal de Havana, Jaime Ortega, que há dias pediu à polícia para desocupar uma igreja no centro da capital cubana de um grupo de 13 opositores que aí se alojou em protesto durante dois dias.
Se, por um lado, a igreja conseguiu garantias de que os membros do grupo não seriam incriminados, por outro lado condenou publicamente a iniciativa, o que teve como efeito receber um coro de críticas, mesmo por parte de vários dissidentes que tinham começado por condenar o protesto.
A opinião pública cubana está dividida entre aqueles que sublinham o papel de Ortega na libertação dos presos políticos em 2010 e em algumas intervenções públicas pontuais a favor de maior liberdade política e económica e outros que o acusam por não fazer o suficiente.
Hoje, enquanto o grupo Damas de Branco estava a ser detido, Ortega conduzia a missa na catedral de Havana, tendo o seu sermão apenas contemplado assuntos religiosos e a próxima visita do papa, relatou a AP.