A decisão surgiu depois de o Supremo Tribunal de Justiça considerar inconstitucional a nomeação do novo governo da Guiné-Bissau. Ramos Horta, antigo enviado da ONU para o país, aconselha ponderação.
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Os juízes do Supremo Tribunal de Justiça dizem que o Presidente da República desrespeitou a norma constitucional que o obriga a indicar o primeiro-ministro a partir dos resultados eleitorais.
Baciro Djá, em curtas declarações a imprensa à saída de uma conversa com o chefe de Estado guineense, anunciou que iria pedir a demissão do cargo ainda esta quarta-feira. A Guiné-Bissau volta assim a ficar sem governo.
Há cerca de um mês, o Presidente José Mário Vaz demitiu o primeiro-ministro, usando como argumentos obstrução à justiça, deslealdade, desrespeito institucional e quebra de confiança.
Domingos Simões Pereira, pelo PAIGC, tinha ganhado as eleições em abril do ano passado com maioria absoluta. O antigo secretário executivo da CPLP reunia o apoio do Parlamento, que votou duas moções de confiança ao Governo.
Durante o mandato, que durou um ano e quatro meses, os conflitos com o Presidente intensificaram-se. Em causa, nomeações do governo, contratos e contas públicas, contestadas e questionadas por José Mário Vaz. A demissão aconteceu a 12 de agosto. Foi preciso um mês para o Presidente anunciar um novo nome.
Esta segunda-feira, Baciro Djá era apresentado como novo primeiro-ministro. Tinha o apoio da segunda maior força política na Assembleia Nacional Popular, o Partido da Renovação Social, mas a contestação do PAIGC. Não chegou a estar dois dias no cargo.
A crise política na Guiné-Bissau tem chamado a atenção da comunidade internacional, que teme um novo golpe no país.
Em declarações à TSF, Ramos Horta, antigo enviado da ONU para a Guiné-Bissau, considera a decisão do Supremo Tribunal de Justiça inevitável e injustificada a demissão de Domingos Simões de Almeida por parte do Presidente da República.
Ramos-Horta aconselha o Presidente da República e o primeiro-ministro demitido cheguem a uma solução. Pede também que a pressão sobre os militares no país seja aliviada e que se mantenham calmos para evitar uma crise maior. Ramos-Horta avisa ainda que enquanto não houver estabilidade política na Guiné-Bissau, o apoio financeiro internacional vai ser congelado.
O secretário executivo da CPLP, Murade Murargy, considera que a Guiné-Bissau enfrenta agora "uma situação bastante complicada".
Notícia atualizada às 17:12 com as declarações de Ramos Horta à TSF.