O secretário-geral da ONU criticou o recurso aos aviões não-tripulados armados, perante vários militares no Paquistão, o país mais bombardeado, juntamente com o Iémen, pelos 'drones' norte-americanos.
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«Deixem-me ser claro. O único objetivo destas novas ferramentas, como os aviões não-tripulados e sem armas, é (juntar) informação. São essencialmente câmaras voadoras», declarou Ban, no primeiro dia da visita ao Paquistão.
«O uso de 'drones' armados, como o de qualquer outra arma, deve estar sujeito ao direito internacional, incluindo o direito humanitário internacional. Esta é uma posição muito clara das Nações Unidas. Todos os esforços devem ser feitos para impedir erros e vítimas civis», acrescentou, numa intervenção proferida na universidade para as ciências e tecnologias em Islamabad.
Os Estados Unidos multiplicam, desde 2004, os tiros de 'drones' nas zonas tribais semi-autónomas do noroeste do Paquistão, região junto à fronteira com o Afeganistão, que serve de refúgio para os talibãs e outros grupos islamitas armados, como a Al-Qaida.
Estes tiros intensificaram-se a partir de 2008 e são considerados por Washington como uma arma essencial para neutralizar os inimigos islamitas, escondidos nas zonas tribais paquistanesas, apresentadas como impenetráveis.
Desde agosto de 2008, perto de 300 bombardeamentos de 'drones' norte-americanos causaram mais de dois mil mortos, na grande maioria guerrilheiros islamitas, de acordo com as autoridades paquistanesas. Outras fontes referem mais de 3.500 mortos.
Apesar de os Estados Unidos defenderem a sua precisão, os 'drones' também fazem vítimas civis e alimentam no forte sentimento anti-norte-americano no Paquistão.
Ban lembrou a importância de relacionar as questões de segurança e do desenvolvimento, sublinhando que as "prioridades orçamentais" de um país devem traduzir as prioridades da população, como o emprego, a energia e a educação.
No Paquistão, o exército representa cerca de 20% das despesas públicas. A educação apenas 2%.
Ban tem ainda previsto um encontro com estudantes num colégio da capital para «falar das formas de promover e desenvolver uma educação para todos», na sequência da mobilização em apoio de Malala Yousafzai, defensora do direito à educação para as raparigas e sobrevivente a um atentado dos talibãs.
Esta visita de dois dias do secretário-geral da ONU acontece numa altura em que as relações entre o Paquistão e a Índia conhecem um novo momento de maior tensão, na região de Caxemira, dividida e disputada pelos dois países.
A Índia acusou, na semana passada, o Paquistão de ter matado cinco soldados na Linha de Controlo (LoC), a fronteira em Caxemira. No domingo, soldados dos dois países continuaram a trocar tiros.
Os dois vizinhos, ambos potências nucleares fortemente militarizadas, travaram três guerras desde a independência, em 1947, do império britânico. Dois destes conflitos foram originados pela questão de Caxemira.