"Nós mesmo aceitamos retirar o backstop", assegurou Michel Barnier, referindo-se ao acordo, composto por uma adenda de 64 páginas ao tratado de retirada, em que se inclui "uma outra abordagem", sobre a fronteira entre a Irlanda do Norte e a República da Irlanda.
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O negociador chefe da União Europeia para o Brexit, Michel Barnier, classificou esta quinta-feira o novo acordo de retirada do Reino Unido da União Europeia como o "melhor possível".
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O acordo "justo e equilibrado" aprovado já esta manhã, a poucas horas do arranque da cimeira europeia, elimina o ponto da discórdia, que sempre impediu a aprovação no Parlamento britânico.
"Nós mesmo aceitamos retirar o backstop", assegurou Michel Barnier, referindo-se ao acordo, composto por uma adenda de 64 páginas ao tratado de retirada original e um texto de outras 27 sobre os compromissos da relação futura, em que se inclui "uma outra abordagem", sobre a fronteira entre a Irlanda do Norte e a República da Irlanda.
Eliminado o calcanhar de Aquiles do acordo anterior, num acordo que envolveu cedências de parte a parte, conseguidas na reta final das negociações, leva a crer que o Parlamento Britânico pudesse agora dar luz verde. Porém, a falar ainda antes das primeiras reações dos grupos políticos de Westminster, Michel Barnier admitia já que não ter certezas absolutas sobre a reação em Londres.
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"Eu fiz o meu trabalho, e a nossa equipa fez o seu trabalho. O presidente Juncker fez o seu trabalho, e, no outro lado [da rua, no Conselho], faremos o nosso trabalho, depois da aprovação do lado europeu", afirmou numa conferência de imprensa, seguida pela TSF, em Bruxelas.
Por agora afirma que lhe resta acreditar nas garantias de Boris Johnson, expressas num telefonema, já esta manhã, para a Comissão Europeia para o gabinete de Jean-Claude Juncker.
"Eu sou um político. Por isso, imagino que o primeiro-ministro britânico é um homem político. Quando ele afirma ao presidente Juncker, esta manhã, - e eu assisti a essa conversa telefónica, que ele está em condições de fazer aprovar o acordo que nós alcançámos esta noite -, há que confiar", firmou Barnier.
Cedências
Boris Johnson foi forçado a fazer cedências, depois de na terça-feira à noite ter sido avisado de que a corda tinha esticado até ao limite, e, sem um gesto do lado britânico, não restaria outra opção a não ser a de aceitar uma extensão.
O primeiro-ministro tentou até à última que o acordo negociado em Bruxelas não viesse a ser chumbado no Parlamento. Por isso mesmo, procurou negociar o apoio do partido unionista, DUP, prometendo à liderança do partido, Arlene Foster, investimentos multimilionários na região.
De acordo com os relatos da imprensa britânica, Boris Johnson prometeu verbas para a região, para comprar o apoio na Irlanda do Norte. De Londres há já um coro de críticas sobre o acordo. Os unionistas da Irlanda do norte, e o Partido Trabalhista de Jeremy Corbin, essenciais para qualquer aprovação no Parlamento, já anunciaram a sua oposição.
Resta saber agora como reagirá o Parlamento Europeu relativamente a um acordo que deixa cair o backstop da Irlanda. Na abertura da última sessão plenária, antes da cimeira, o presidente do Parlamento Europeu, David Sassoli, frisou que "qualquer acordo alcançado entre a União Europeia e o Reino Unido deve obter não apenas o voto da Câmara dos Comuns, mas também a aprovação do Parlamento Europeu", e as propostas do Reino Unido, para um alternativa ao backstop original, "não constituem atualmente uma base para chegar a um acordo" e são apenas "ideias".
Cimeira
O encontro começa às 15h00 (14h00 em Lisboa), com a habitual receção ao presidente do Parlamento Europeu. Após a breve participação de David Sassoli, a reunião prossegue com os chefes de Estado ou de Governo dos 28 Estados-membros, entre os quais o primeiro-ministro Boris Johnson. Este terá aí a uma possibilidade de intervenção na cimeira, caso assim o entenda.
O encontro continuará depois no formato UE27. Se tudo correr como previsto, os líderes deverão falar à imprensa às 19h00 locais, seguindo-se um jantar de trabalho, no qual será debatida a Turquia, nomeadamente a intervenção militar contra os curdos na Síria. O outro tema servido ao jantar é o dossier do alargamento, numa altura em que têm sido retirados os elogios aos "progressos" realizados, em matéria de integração, pela Albânia.