Becciu, o cardeal que é uma pedra no sapato do papa e para quem o Vaticano pede prisão
Procurador-Geral do Vaticano pede sete anos e três meses de prisão para Angelo Becciu num caso que tem ainda outros nove arguidos.
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O papa Francisco vai trazer para a Jornada Mundial da Juventude de Lisboa uma pedra no sapato: é um seu cardeal, Angelo Becciu, que foi núncio apostólico em Cuba e em Angola, onde os negócios também não terão sido assim tão luminosos.
O caso está agora nas mãos do Procurador-Geral do Vaticano, Alessandro Diddi, que pede sete anos e três meses de prisão, com multas e apreensões num valor próximo dos 14 milhões de euros.
Tudo começou a desmoronar-se quando o Cardeal Becciu era substituto na secretaria de Estado, a terceira figura da Santa Sé, entre 2011 e 2018, e se responsabilizou pela venda de um imóvel em Londres, em 2014.
Diddi pediu também para Becciu a inelegibilidade de possuir um cargo no Vaticano, embora o Papa Francisco o já tivesse suspendido e retirado os benefícios de cardeal, e uma compensação de 10.329 euros.
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Acusado de peculato e outros crimes financeiros, o italiano pode vir a ser o primeiro condenado a prisão pelo Vaticano, que já o destituiu em setembro de 2020. Becciu esteve na diocese do Porto há cinco anos, quando era prefeito do dicastério da congregação para a causa dos santos.
Há ainda outros nove réus, entre funcionários da Santa Sé, financiadores e intermediários, que são acusados de peculato, burla agravada, extorsão e branqueamento de capitais e para os quais é pedida prisão de entre três e 13 meses e entre nove mil e 18 mil euros de indemnização.
São eles o advogado suíço René Brülhart, ex-presidente da Autoridade de Informação e Supervisão Financeira do Vaticano, o padre Mauro Carlino, ex-secretário do cardeal; Tommaso Di Ruzza, ex-diretor da Autoridade de Informação Financeira do Vaticano e Fabrizio Tirabassi, funcionário do Escritório Administrativo da Secretaria de Estado, assim como os corretores financeiros e mediadores na operação do edifício londrino, acusados de lucrar e defraudar a Santa Sé: Enrico Crasso, Raffaele Mincione, Gianluigi Torzi, Nicola Squillace.
Durante o processo surgiram ainda outros crimes financeiros alegadamente cometidos por Becciu, como doações de 125 mil euros que o cardeal fez a uma associação, vinculada à Cáritas de Ozieri, que na época era presidida por um dos seus irmãos.
Becciu negou todas as acusações e os advogados alegaram que Francisco e o secretário de Estado do Vaticano estavam cientes e aprovaram os vários investimentos e transações financeiras, incluindo o pagamento de 15 milhões de euros a um corretor financeiro com sede em Londres acusado de extorquir dinheiro do Vaticano.
A tese da acusação apresentada pelo procurador do Vaticano é que a Secretaria de Estado, na altura em que Becciu era o Substituto de Assuntos Gerais, ou seja, o homem-chave da burocracia, investiu uma grande quantia numa operação altamente especulativa para a compra de um edifício em Londres e que criou um rombo de entre 139 e 189 milhões de euros nos cofres do Vaticano.
O julgamento vai estar suspenso durante as férias de verão e será retomado em 27 de setembro. A sentença pode sair antes do Natal.