Moscovo fala em provocações de Kiev, alegando que os ucranianos estão a construir uma bomba suja. Paris, Londres e Washington acreditam que a acusação é falsa.
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O Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, alertou que o uso da arma nuclear pela Rússia seria um "erro extremamente grave", enquanto Moscovo afirma que Kiev está a preparar uma "bomba suja", uma afirmação negada pelo Ocidente.
"A Rússia estaria a cometer um erro extremamente grave se usasse uma arma nuclear tática", advertiu o chefe de Estado norte-americano.
Uma bomba radiológica ou "bomba suja" consiste em explosivos convencionais envoltos por materiais radioativos destinados a serem espalhados através de pó no momento da explosão.
"Não garanto, no momento, que seja uma operação de pretexto. Não sabemos", indicou Biden.
Moscovo evocou pela primeira vez as acusações no domingo em conversas telefónicas realizadas entre o ministro da Defesa russo, Serguei Choigu, com homólogos norte-americanos, franceses, britânicos e turcos, referindo-se a "possíveis provocações da Ucrânia com recurso a uma 'bomba suja'".
Juntos, Paris, Londres e Washington criticaram segunda-feira as declarações "falsas" de Moscovo.
O Conselho de Segurança da ONU debateu à porta fechada as acusações da Rússia, que afirma que a Ucrânia fabricou uma 'bomba suja', alegações rejeitadas por Kiev e pelo Ocidente.
O debate foi pedido pela Rússia, cujo embaixador, Vassili Nebenzia, enviou uma carta ao Conselho de Segurança e ao secretário-geral da ONU, António Guterres, em que insiste nas acusações à Ucrânia.
No final, o embaixador britânico junto da ONU, James Kariuki, disse que as alegações russas de desenvolvimento pela Ucrânia de 'bombas sujas' são apenas um novo capítulo na prolongada desinformação e propaganda da Rússia.
Após uma reunião à porta fechada no Conselho de Segurança para debater as acusações russas, o diplomata do Reino Unido apresentou à imprensa alguns dos detalhes do encontro, indicando que ele, juntamente com os representantes da França e dos Estados Unidos na ONU, "foram claros nas suas posições de que tudo não passam de alegações falsas" de Moscovo.
"São alegações falsas. Desinformação como a que vimos antes. Não foi apresentada nenhuma prova. A Ucrânia tem sido clara de que não tem nada a esconder e inspetores da Organização Internacional de Energia Atómica (OIEA) estão a caminho", disse Kariuki.
A ofensiva militar lançada a 24 de fevereiro pela Rússia na Ucrânia causou já a fuga de mais de 13 milhões de pessoas -- mais de seis milhões de deslocados internos e mais de 7,7 milhões para países europeus -, de acordo com os mais recentes dados da ONU, que classifica esta crise de refugiados como a pior na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
A invasão russa -- justificada pelo Presidente russo, Vladimir Putin, com a necessidade de "desnazificar" e desmilitarizar a Ucrânia para segurança da Rússia - foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que tem respondido com envio de armamento para a Ucrânia e imposição à Rússia de sanções políticas e económicas.
A ONU apresentou como confirmados desde o início da guerra 6.306 civis mortos e 9.602 feridos, sublinhando que estes números estão muito aquém dos reais.