O governo birmanês acordou com a guerrilha da minoria Karen um novo plano para consolidar o processo de paz iniciado em janeiro após um cessar-fogo preliminar, informa a imprensa local.
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Este processo de paz pôs fim a uma das revoltas mais longas do mundo.
A delegação da União Nacional Karen (UNK), braço político da guerrilha étnica, e representantes do Governo acordaram «realizar progressivamente» um programa de 13 pontos, anunciado em Rangum num comunicado conjunto, depois de ambas as partes retomarem na sexta-feira as negociações.
Segundo o plano, o governo e a UNK acordaram estabelecer um código de conduta para ambas as tropas que garanta a segurança dos civis e preserve o cessar-fogo que, desde o seu início, não evitou diversos confrontos, indica a Karen News.
As duas partes também se comprometeram a criar mecanismos de controlo do cessar-fogo, incluindo um grupo de observadores internacionais numa fase posterior, e a elaborar um plano para reunir a população deslocada pelo conflito armado, que inclui a cooperação para eliminar minas anti-pessoais.
De entre os realizados até agora, este foi o encontro ao mais alto nível entre o Governo e UNK, cujos representantes foram convidados hoje para uma primeira reunião com o Presidente Thein Sein.
A UNK, organização considerada ilegal pelo Governo birmanês e dirigida desde as suas bases na fronteira com a Tailândia, insiste em legalizar-se para normalizar a sua atividade política na Birmânia, segundo informa o The Irrawaddy.
Os representantes da guerrilha compareceram na reunião depois de apresentarem em fevereiro um documento pedindo ao Exército para consolidar o fim de revolta que começou em 1949 para reclamar a autonomia de um vasto território do leste da Birmânia.
Um dos pontos incluídos no documento era estender os acordos de cessar-fogo a todos os territórios das minorias étnicas do país, proposta a que também se comprometeu na sexta-feira a delegação governamental.
Nos últimos meses, o Governo birmanês estabeleceu acordos de cessar-fogo com uma dezena de guerrilhas, incluindo o que foi estabelecido esta semana com o Partido da Libertação de Arakan, minoria do oeste do país.
Até ao momento fracassaram as negociações com a organização para a Independência Kachin, guerrilha que conta com cerca de 8.000 combatentes e que desde 2010 enfrenta o Exército birmanês depois de rompido o cessar-fogo acordado em 1994.
Os combates deslocaram cerca de 45.000 pessoas para 30 campos de refugiados ao largo da fronteira com a China, onde o Governo dificulta o acesso à ajuda humanitária, denunciou a Human Rights Watch.
As conversações de paz entre o governo e a guerrilha Karen são as primeiras depois das eleições parciais do passado domingo, nas quais a Liga Nacional para a Democracia, na oposição, conseguiu 43 dos 45 lugares em jogo, incluindo o alcançado pela Prémio Nobel da Paz, Aung San Suu Kyi, com quem a UNK prevê reunir-se no próximo domingo.
«Aung San Suu Kyi disse que está pronta para ajudar a alcançar a paz nas zonas das minorias étnicas e queremos saber quais são os seus planos. Iremos contar-lhe como têm sido as nossas conversações de paz e veremos como podemos cooperar no futuro», disse a porta-voz da UNK, May Oo Mutraw, ao jornal The Irrawaddy.
A Birmânia, depois de meio século de regimes militares, atravessa uma etapa de reformas desde que a última junta se dissolveu e entregou o poder a um governo civil formado, na sua maioria, por ex-generais.