A opositora birmanesa Aung San Suu Kyi declarou hoje que receber o pr émio Nobel da Paz em 1991, quando estava em prisão domiciliária, lhe deu a esperança para continuar o seu combate e «abriu uma porta» no seu coração.
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No discurso de aceitação do Nobel, 21 anos depois, Suu Kyi considerou que o comité que a premiou "estava a reconhecer que os oprimidos e isolados na Birmânia também faziam parte do mundo, estava a reconhecer a unidade da Humanidade".
«Para mim, receber o prémio Nobel da Paz significa que estendo as minhas preocupações em relação à democracia e os direitos humanos além das fronteiras nacionais [...]. O prémio Nobel da Paz abriu uma porta no meu coração"», disse Aung San Suu Kyi.
Em 1991, Suu Kyi seguiu pela rádio a cerimónia de entrega do galardão, onde esteve representada pelo marido Michael Aris e pelos dois filhos, Kim e Alexander.
«Frequentemente, durante os meus dias de prisão domiciliária [15 dos últimos 24 anos] senti-me como se já não fizesse parte do mundo real», confessou.
Preocupada com o facto de os "desconhecidos serem esquecidos", Aung San Suu Kyi pediu hoje em Oslo a libertação dos presos políticos na Birmânia.
«Um prisioneiro de opinião é um a mais [...]. Por favor, lembrem-se deles e façam o que puderem para conseguir a sua libertação incondicional o mais rapidamente possível», pediu ao público reunido na Câmara de Oslo para a ouvir.
Secretária-geral da Liga Nacional para a Democracia e eleita deputada em abril, Aung San Suu Lyi declarou que ela e o seu partido estão prontos a desempenhar o seu papel no sentido da reconciliação nacional que conduza à democracia na Birmânia.
«O meu partido, a Liga Nacional para a Democracia, e eu própria estamos prontos e desejosos de desempenhar qualquer papel no processo de reconciliação nacional», afirmou.
A ativista disse ainda que encorajava um «otimismo cauteloso» na transição do seu país do regime militar para a democracia sob o Governo dito civil do ex-general presidente Thein Sein
Cauteloso não porque «não tenha fé no futuro», mas porque não quer encorajar uma «fé cega», explicou.
Embora o Governo birmanês tenha assinado acordos de cessar-fogo com grupos étnicos rebeldes, Suu Kyi assinalou que a violência continua, com o conflito no Norte com o Exército para a Independência Kachin e os confrontos entre budistas e a minoria muçulmana.
«As hostilidades não terminaram no extremo norte [com os Kachins]. No oeste, a violência entre comunidades assume a forma de incêndios e de assassínios, que ocorreram mesmo antes de começar a viagem que me trouxe aqui», disse.
Cinquenta pessoas foram mortas e dezenas ficaram feridas nos confrontos recentes no estado Rakhine (oeste da Birmânia), informaram hoje os media estatais.
Este discurso é um ponto alto da deslocação de Aung San Suu Kyi à Europa - após 24 anos sem sair da Birmânia --, que teve início na quinta-feira em Genebra e que tem a duração de 15 dias.