Bissau em dívida. Depois de uma noite às escuras, o medo é de que os "apagões" continuem
Em causa está uma dívida que o Governo de Bissau tem para pagar à Karpower, a empresa turca que fornece eletricidade ao país.
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A capital da Guiné-Bissau respira agora de alívio, depois de uma noite passada totalmente às escuras, ao ponto de as principais rádios terem ficado em silêncio. É o que conta à TSF o diretor de informação da Rádio Capital, Tiago Seide, que avança que também os hospitais viveram momentos complicados.
"Esta manhã, as intervenções cirúrgicas, que deveriam ser feitas, não foram feitas. Alguns pacientes que foram lá, não foram atendidos, tiveram de abandonar o hospital para ir, por exemplo, às clínicas, porque algumas clínicas têm um grupo de geradores a funcionar", explica.
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Os geradores foram também a solução encontrada por muitas famílias em Bissau, que procuraram auxílio na tarefa de arrefecer as casas, numa cidade com temperaturas a bater os 40 graus.
A falta de eletricidade levou também à escassez de água, o que dificultou a vida aos mais de 400 mil habitantes de Bissau.
"As pessoas que vão fazer as compras semanais, têm, por exemplo, peixe na geladeira e você levanta-se de manhã e não tem energia, não sabe quando é que vem ou não vem", lamenta, afirmando que o "apagão" foi inédito.
"É a primeira vez que a empresa decidiu fazer esse apagão sem ter avisado", sublinha.
Em causa está uma dívida de "cerca de 17 milhões de dólares" (15,8 milhões de euros) que o Governo de Bissau tem para pagar à Karpower, a empresa turca que fornece eletricidade à Guiné-Bissau, há cinco anos, a partir de um barco.
O ministro da Energia garantiu que parte dessa dívida já foi paga e, por isso, a eletricidade voltou a meio da tarde desta quarta-feira, mas teme-se que a situação continue instável.
O jornalista adianta que o Executivo tem tido problemas financeiros e considera que, neste momento, o país "está encurralado".
"[O Governo] não conseguiu pagar a dívida porque tem salários para pagar. Pedir emprestado aos bancos para adiantar o pagamento à empresa e depois voltar a pedir aos bancos comerciais para pagarem o salário, vai ser complicado", sentencia.
Até ao momento, o Executivo já foi capaz de pagar pouco mais de seis milhões de dólares (5,69 milhões de euros), tendo com isso conquistado tempo para renegociar a dívida. Mas as coisas podem complicar-se, alerta Tiago Seide.
"Se o Governo não tiver a capacidade de poder liquidar a dívida e de poder continuar a suportar os encargos das faturas que são emitidas pela empresa, é óbvio que a empresa Karpower não continuará a fornecer a energia e nós vamos continuar com um apagão", aponta.
O atual Executivo culpa o anterior por ter comprado energia a mais, afirmando que está a pagar por um produto que não é consumido. A juntar ao problema, alerta Tiago Seide, estão geradores avariados e a falta de alternativas ao fornecimento turco.
"Não se deu nenhum sinal nesse sentido, de o Governo estar a procurar um outro parceiro. Na minha opinião, deveria ser esse o caminho. Sim, vai trabalhar para poder liquidar a dívida, mas tem de procurar outras alternativas", defende.
Tiago Seide acrescenta, ainda, que daqui a três ou quatro meses há uma barragem na Guiné-Conacri pronta a fornecer energia a Bissau, mas, até lá, a dependência perante a empresa turca vai continuar.