Bósnia Herzegovina ou as eleições forçadas na entidade sérvia do país da paz frágil

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A Bósnia Herzegovina está em paz há trinta anos. Frágil, mas paz. Uma das duas entidades que formam o país e de onde sopram ventos separatistas, tem eleições este domingo.: a Republika Srpska, ou República Sérvia (RS), a entidade sérvia.
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O gatilho para estas eleições antecipadas foi a decisão final do Tribunal da Bósnia e Herzegovina, que condenou Milorad Dodik (SNSD, Aliança de Sociais-Democratas Independentes, que é, na verdade um partido nacionalista), ex-presidente da RS, o líder dos sérvios bósnios, a um ano de prisão (posteriormente convertido em multa), juntamente com uma proibição de seis anos de atividade política. De acordo com a lei, isso automaticamente encerrou o mandato presidencial. A decisão criou uma profunda divisão institucional. As autoridades da RS e o partido de Dodik rejeitaram inicialmente o veredicto e continuaram a tratá-lo como um líder político ativo.
As instituições do estado bósnio e os atores internacionais continuam a insistir no cumprimento incondicional das decisões judiciais. Embora Dodik tenha sido formalmente «neutralizado» politicamente, mantém efetivamente o controlo total sobre o SNSD e grande parte do aparato institucional da entidade sérvia.
Ao longo da campanha eleitoral, Milorad Dodik e os seus apoiantes recorreram a uma retórica fortemente polarizadora, muitas vezes marcada por discursos de ódio dirigidos aos bósnios muçulmanos. Isto foi particularmente evidente nos comícios públicos, incluindo os realizados em Sarajevo Oriental (Srpsko Sarajevo, assim lhe chamam).
Os atores internacionais ocidentais consideram a agenda política de Dodik um fator desestabilizador e um canal para a influência russa. A retórica de Milorad Dodik e do SNSD afirma frequentemente que a Republika Srpska está «sob ameaça» de Sarajevo, dos tribunais estrangeiros e das instituições internacionais. No entanto, a análise da comunidade internacional e de observadores especializados apresenta um quadro diferente: é a agenda política de Milorad Dodik que compromete a ordem constitucional da Bósnia-Herzegovina, aumenta as tensões étnicas, representa um risco para a segurança do Estado e da região e causa prejuízos económicos, políticos e diplomáticos à própria RS.
As eleições presidenciais antecipadas na RS decorrem, assim, este domingo, dias após a comemoração dos 30 anos da assinatura do Acordo de Paz de Dayton (21 de novembro, com ratificação no início de dezembro, em Paris,m no ano de 1995) num contexto institucional e político excepcionalmente tenso. Os processos judiciais contra Milorad Dodik criaram um precedente e um vazio de poder que o SNSD está a tentar preencher através do seu «candidato manchuriano» - Siniša Karan (político sérvio-bósnio que ocupa atualmente o cargo de ministro do Desenvolvimento Científico-Tecnológico e do Ensino Superior da Republika Srpska. De 2022 a 2025, ocupou o cargo de ministro do Interior da entidade).
Uma vitória de Karan significaria a continuação da política existente de desestabilização e confronto com as instituições estatais e a comunidade internacional. Em contrapartida, uma vitória de Branko Blanuša. Há muito membro do SDS, o partido que foi de Radovan Karadzic mas que hoje representa uma espécie de "lado bom da força", este professor catedrático na Faculdade de Engenharia Elétrica da Universidade de Banja Luka, onde foi reitor de 2017 a 2021 e nasceu, vive e trabalha, é autor de inúmeros artigos científicos e "lecionou em muitas universidades no estrangeiro". Uma eventual vitória sua sobre o prtotegido de Dodik, abriria caminho para uma reconfiguração institucional, atenuando as tensões e reforçando a confiança nos mecanismos estatais, tanto na RS como na Bósnia-Herzegovina, e anunciaria um esforço decisivo para combater o crime e a corrupção.
Na entid ade sérvia como no país, o papel da comunidade internacional (com a figura tutelar do Alto Representante) continua a ser fundamental: garantir a supervisão do processo eleitoral, impedir a manipulação, combater o discurso de ódio, manter a segurança e salvaguardar a ordem constitucional e a organização interna do Estado. Porque os perigos de fratura e de nova renovada conflitualidade violenta está sempre à espreita.