O gosto pela comida surgiu em França. Irreverente, honesto e curioso, Anthony Bourdain morreu aos 61 anos.
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Como dizer? Bourdain ou Bordein? A dúvida faz mais sentido porque Anthony Bourdain nasceu nos Estados Unidos e o pai era francês. Aliás, foi em França que se apaixonou pela comida quando provou ostras durante umas férias de verão em família. Depois, Anthony Bourdain trabalhou numa marisqueira e foi aí que decidiu pôr o avental.
Fez o curso no Instituto Culinário da América, formou-se em 1978. Chefiou cozinhas em restaurantes famosos de Nova Iorque, Miami, Washington e Manhattan.
O nome e a pessoa de Anthony Bourdain começou a dar nas vistas em 1999 quando a revista New Yorker publicou o artigo da autoria do chef Bourdain "Don't Eat Before Reading This" ("Não Comam Antes de ler Isto").
Em 2000, o artigo passou a livro. "Cozinha Confidencial" ("Kitchen Confidential: Adventures in the Culinary Underbelly", uma obra sobre memórias pessoais e que revela também o lado negro do mundo da culinária transformou o chef de cozinha em escritor e o seu nome passou a ser conhecido pelo grande público.
Depois do livro, veio a televisão. Primeiro nos canais Food Network e Travel Channel, depois na CNN desde 2013.
Bourdain foi apresentador do programa "No Reservations", onde misturava os dois ingredientes que marcaram a vida dele: viagens e cozinha. Ao longo de nove temporadas passou duas vezes por Portugal, uma nos Açores, em 2009, e outra em Lisboa em 2012.
Os relatos de aventuras gastronómicas foram tema de mais dois livros e de outro programa de televisão. "Parts Unkown - Viagem ao Desconhecido" começou a ser emitido pela CNN em abril de 2013, e já ia na sua 11.ª temporada. Em 2017, o programa passou pela cidade do Porto.
A CNN recorda que Anthony Bourdain era irreverente, honesto e curioso. Não era condescendente e não fazia obséquios.
Quando aceitou o Pérmio Peabody em 2013, por "Parts Unknow", Bourdain descreveu a forma como lidava com o seu trabalho: "Fazemos perguntas muito simples: o que te faz feliz? o que comes? O que gostas de cozinhar? E em qualquer lugar do mundo onde vamos e fazemos estas perguntas", adiantou", "a tendência é para conseguirmos respostas realmente surpreendentes."
Numa entrevista à Time/Money, Bourdain falou de uma das lições mais importantes que aprendeu durante as suas viagens: não querer fazer tudo ao mesmo tempo. "O tempo que se gasta em querer fazer todas as excursões, ver todas as vistas, mantém-nos numa espécie de bolha que nos impede de deixar a magia acontecer. Nada de inesperado vai acontecer se a nossa visita a Paris estiver cheia de visitas ao Louvre e Torre Eiffel".
Tóquio era a sua cidade de eleição caso um dia decidisse assentar. "É tão diferente do ambiente, da sociedade e da cultura em que cresci", confessou em entrevista ao site Maxim.
Bourdain não era um fã da corrente vegetariana na cozinha. Acérrimo carnívoro, como ele próprio se descrevia, considerava que os vegetarianos tinham uma "atitude separatista semelhante ao Hezbollah" e que "não mereciam a preocupação de um chefe que se preze".
Gostava de uma boa bebida da mesma maneira que gostava de comida e as duas coisas andavam lado a lado: "Mesmo no Serengeti, um churrasco não é churrasco se não tiver alguma espécie de cerveja", disse durante um episódio de "Parts Unknow", gravado na Tanzânia.
Bourdain também nunca escondeu a batalha que travou contra o abuso de drogas. Em 2014, foi questionado por um fã sobre como conseguia continuar a beber mesmo depois dos problemas que teve com heroína e cocaína. Bourdain respondeu: "Sou um caso pouco usual. Talvez porque as minhas experiências no final foram tão horríveis, nunca me senti tentado a voltar a elas outra vez".