Os negociadores de Londres e Bruxelas fazem esta semana aquela que deveria ser a derradeira tentativa para fechar o acordo da relação comercial da era pós-brexit.
Corpo do artigo
Há divergências que se mantém e só com "vontade política" podem ser ultrapassadas. A convicção é de Pedro Silva Pereira, membro do grupo coordenador do Brexit no Parlamento Europeu, onde esta semana foi nomeado para redigir o relatório sobre o controlo da execução do acordo de retirada.
TSF\audio\2020\09\noticias\30\joao_francisco_guerreiro_nona_ronda_brexit_bruxelas
O deputado acredita que um acordo é possível desde que haja "vontade política em Londres". Admite, porém, que a dois dias da conclusão daquela que deveria ser a derradeira ronda negocial com o Reino Unido, há ainda barreira intransponíveis.
"O que recolhemos aqui no Parlamento Europeu, dos contactos com os negociadores, é que as divergências subsistem teimosamente e portanto ninguém pode afiançar qual será o resultado do processo negocial", afirmou, numa altura em que é preciso ultrapassar as divergências sobre o acesso de barcos europeus às águas de pesca britânicas e resolver alinhamento do Reino Unido às regras da concorrência europeias.
"A União Europeia está hoje a oferecer ao Reino Unido o que nunca ofereceu a ninguém", nomeadamente "o acesso ao mercado europeu sem restrições de nenhuma espécie", vincou o deputado, salientado que a contrapartida é "apenas" que o Reino Unido se "comprometa e que não vai promover uma distorção da concorrência". Ou seja, "que não vai baixar os padrões ambientais sociais e laborais, que neste momento estará em vigor e que vai assegurar ao nível do controlo das ajudas de Estado exatamente para não distorcer a concorrência".
"Aquilo que a União Europeia está portanto a pretender é apenas o razoável e aquilo que aliás ficou consagrado na Declaração Política que guia estas negociações", considerou.
O problema adensou-se nas últimas semanas, com a intenção de Boris Johnson de fazer aprovar leis para anular a parte mais sensível do acordo de retirada, que para Silva Pereira não é mais do que "uma provocação inaceitável", que a União Europeia "não pode tolerar".
A atuação do governo britânico, de fazer passar uma lei controversa que anula parcialmente o acordo de saída e põe em causa a questão sensível da fronteira na ilha da Irlanda. Além do mais, é uma violação dos tratados internacionais.
"A questão crítica é, realmente, saber se o Reino Unido tem vontade política e sentido das responsabilidades para ter uma atitude construtiva nas negociações, e também claro afastar de vez essa ideia de violar o acordo de saída", afirmou.