“Brexit foi um desastre.” Ex-eurodeputado britânico saúda aproximação à UE, mas alerta que danos persistem
Ex-eurodeputado do partido de Margaret Thatcher afirma que o acordo de Londres e Bruxelas é um passo “realmente importante” para a reaproximação à UE
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O antigo eurodeputado do Partido Conservador britânico Charles Tannock considera que a cimeira entre Londres e Bruxelas, que marcou o início desta semana, marca um momento “realmente importante” na aproximação entre o Reino Unido e a União Europeia. Embora reconheça que o acordo está longe de colmatar as perdas causadas pela saída da União Europeia, considera que “desta vez é uma coisa realmente importante e bem feita”.
Entrevistado pela TSF no programa Fontes Europeias, Charles Tannock elogia o chamado Acordo de Lancaster House, referindo que "até agora [Keir] Starmer, o primeiro-ministro britânico, tem falado muito, mas feito muito pouco”, mas desta vez, diz, há resultados concretos.
Entre os pontos do acordo, destaca, a título de exemplo, “o acesso britânico ao Sistema de Informações de Schengen e ao Sistema Europeu de Informação sobre Registos Criminais, a cooperação em matéria de defesa, um novo esquema de mobilidade juvenil, acordos sanitários e fitossanitários”.
O ex-eurodeputado refere ainda “um compromisso com a livre circulação”, considerando que “é já um grande passo em frente na questão da livre circulação de britânicos no resto da Europa”.
Brexit
Apesar dos avanços, Tannock considera que os danos provocados pelo Brexit ainda não são compensados, com a aproximação resultante do acordo. “Todos os economistas dizem que perdemos aproximadamente 4% do nosso PIB”, afirma, convicto de que “estes acordos não irão ajudar muito nesse aspeto”, pois “só seria possível se o Reino Unido fosse reintegrado num mercado interno” ou numa solução “tipo Noruega.”
Sobre a evolução da opinião pública britânica, sublinha que “a realidade das sondagens e também é uma realidade demográfica”, mostra “que muitos dos eleitores mais velhos favoráveis ao Brexit já faleceram”, enquanto a nova geração tende a favorecer uma ligação mais próxima à União.
“As sondagens demonstram que pelo menos 60% do eleitorado ou quer ser membro da União Europeia ou quer estar muitíssimo mais próximo”, frisa, referindo-se ao sentimento atual da população britânica.
Imigração
Na entrevista, o ex-eurodeputado comenta também o crescimento do partido Reform, de Nigel Farage, que descreve como “um paradoxo”, uma vez que “ Nigel Farage criou o Brexit, que gerou mais imigração, e agora quer reduzir uma imigração que faz falta na economia britânica”.
Charles Tannock lembra que “quando os europeus deixaram de vir para Londres”, o governo de Boris Johnson emitiu vistos para mão de obra de países terceiros. “Com eles vieram muitas famílias. Quando vinham os europeus, geralmente vinham solteiros ou sozinhos”, compara.
“Achei que a única coisa boa que poderia sair do Brexit é ver menos do Nigel Farage nos nossos ecrãs, [mas] aconteceu completamente o oposto”, lamenta.
Portugal
Charles Tannock fala ainda da sua ligação a Portugal, onde viveu parte da infância e adolescência, e da forma como acompanha, a partir de Bratislava, na Eslováquia, onde reside atualmente, a política nacional portuguesa.
“Sou considerado um português honorário. Sou vice-presidente da Associação Cívica Portuguesa da Eslováquia. Estamos agora a organizar uma festa para o dia 10 de junho”, conta.
Sobre os resultados das últimas legislativas, mostra-se atento à ascensão do Chega, atribuindo o resultado “parcialmente” ao discurso anti-imigração que tem sido adotado por André Ventura.
Europa
Tannock manifesta satisfação pelo resultado das eleições na Roménia, onde venceu um candidato pró-europeu, mas alerta que “o projeto europeu é frágil” e, apesar de considerar que o Brexit serviu como “uma espécie de vacina”, travando eventuais imitações da parte de outros países, teme o que possa acontecer em França, caso a extrema-direita de Marine Le Pen chegue ao poder.
Transatlântico
Sobre a relação com os Estados Unidos, critica duramente Donald Trump e considera que o Presidente dos EUA fez declarações “completamente ridículas” a propósito da UE. "É a primeira vez que um chefe de Estado nos Estados Unidos diz uma coisa desse género.”
Em simultâneo, considera que a incerteza em Washington em relação ao compromisso com a NATO está a motivar uma nova fase de integração europeia. “A NATO já não é tão robusta com uma administração americana ambivalente como temos agora em Washington”, salienta.
Defesa
Questionado sobre o reforço da política europeia de defesa, Tannock considera importante que haja um comissário europeu para a Defesa. “Pode ser um bocadinho simbólico, mas é muito importante que haja uma pessoa a coordenar tudo isto”, frisa, referindo que apesar do alinhamento do Reino Unido e da UE, em matéria de segurança e defesa, “o paradoxo de tudo isto é que a saída do Reino Unido acelerou o processo, porque eram sempre os britânicos a usarem o veto”.
“Se nós integramos tudo da Europa, somos uma superpotência militar. Temos duas potências nucleares, Reino Unido e a França. Temos mais de um milhão de soldados nas Forças Armadas Europeias Integradas”, sublinha.