Produto Interno Bruto do país deve estar em queda até março do próximo ano, sobretudo devido aos problemas no fornecimento de energia.
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O Bundesbank prevê uma recessão na economia alemã no inverno devido à escassez de fornecimento de energia causada pela guerra da Rússia contra a Ucrânia.
No boletim de setembro, publicado esta segunda-feira, os economistas do Bundesbank veem sinais crescentes de que a economia alemã entrará em recessão, o que consideram ser "um declínio acentuado, grande e duradouro da produção económica".
Por conseguinte, esperam que o Produto Interno Bruto (PIB) real da Alemanha desça um pouco no terceiro trimestre e acentuadamente no semestre de inverno, que corresponde ao quarto trimestre de 2022 e ao primeiro trimestre de 2023.
A razão, acrescentam os economistas do Bundesbank, é sobretudo "a tensa situação do fornecimento de energia devido à guerra da Rússia contra a Ucrânia".
"A elevada inflação e incerteza em relação ao fornecimento de energia e os seus custos prejudicam não só a indústria intensiva em gás e eletricidade e as suas exportações e investimentos, mas também o consumo privado e os serviços que dele dependem", acrescentam os economistas do Bundesbank.
Preveem também a continuação das tensões de fornecimento de gás nos próximos meses.
Até agora, a Alemanha tem sido capaz de evitar o racionamento de gás graças a maiores fornecimentos de outros países e aos avanços na poupança e armazenamento de energia.
Mas é necessária uma redução significativamente maior do consumo de gás, especialmente pelas famílias, advertem os economistas do Bundesbank.
Ao mesmo tempo, preveem uma inflação de dois dígitos, ou seja, 10% ou mais nos próximos meses na Alemanha.
Por enquanto, o país conteve o aumento dos preços no consumidor, que foi de 8,8% em agosto, com os transportes públicos e subsídios de combustível, que já não se aplicam a partir de 1 de setembro.
A inflação irá, portanto, aumentar ainda mais nos próximos meses porque outras medidas de apoio anunciadas pelo Governo alemão terão um efeito nos preços ao consumidor no início do próximo ano.
"Ainda é prematuro chamar recessão"
João Borges de Assunção referiu, em declarações à TSF, que uma recessão na Alemanha teria efeitos muito negativos para Portugal. No entanto, o professor da Universidade Católica de Lisboa considera que é ainda cedo para se garantir que vem aí uma recessão económica.
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O economista diz que os países europeus, tal como Portugal, ainda estão sob os programas de apoios económicos no pós-pandemia, o que está a ajudar, mas que terminados esses apoios, as economias deverão ressentir-se.
"Não vai haver grande efeito" para Portugal
Já o economista português Gonçalo Pina vive há três anos na capital Berlim e diz que este anúncio do Banco Central era esperado, até pelas dificuldades já sentidas pela Alemanha.
"A notícia era mais ou menos clara. Já se tem falado da possibilidade de uma recessão na Alemanha desde o início da nova invasão russa à Ucrânia. Espera-se que no inverno, dependendo claramente se será muito frio ou não, possam haver alguns problemas no abastecimento e com isso algumas indústrias poderão parar. A Alemanha tem indústrias muito dependentes de energia e se essas indústrias pararem isso terá um efeito em cadeia, outras indústrias terão de parar e isso poderá provocar alguma recessão", explicou à TSF Gonçalo Pina.
Caso a recessão se confirme, o também professor de economia afirma que o impacto em Portugal poderá ser forte, em especial na oferta de produtos.
"Se houver uma falha de produção na Alemanha muito grande há um choque na oferta e na procura, mas no inverno não há grande procura da Alemanha para produtos portugueses, não vai haver grande efeito. No entanto, se alguns setores comerciais podem ser afetados em Portugal. A cada dia que passa parece que o choque será menos grave do que se esperava, ou seja, a procura de gás natural na Alemanha tem vindo a diminuir, havendo substituição por outras fontes de abastecimento. As reservas de gás estão quase cheias, acima do que era esperado, pode ser que a recessão seja menos forte do que se esperava", acredita o economista português.
É essa a previsão e esperança de Gonçalo Pina que, por agora, garante que a esperada crise económica na Alemanha ainda não se faz sentir, mas tudo vai depender do inverno que se aproxima.
"Para já o choque parece que não chegou. A energia está um bocadinho mais cara do que antigamente, mas o choque, para já, não se nota ainda. Há muitos receios de que possa acontecer, mas não se nota quase nada. Este fim de semana a energia esteve muito barata porque esteve muito vento, não estamos ainda numa situação de rutura", acrescentou o especialista.
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