Buraco do ozono a recuperar? Novo estudo contradiz últimas avaliações e revela aumento
Os cientistas analisaram o comportamento da camada de ozono entre setembro e novembro utilizando informações de satélite.
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A recuperação da camada de ozono, que protege o planeta Terra da redação ultravioleta, tem sido celebrada como uma das maiores conquistas ambientais, mas num novo estudo, publicado na terça-feira, alguns cientistas afirmam que não só pode não estar a recuperar como o buraco pode mesmo estar a aumentar. Esta conclusão vem assim contrariar as avaliações anteriores sobre o estado da camada de ozono, incluindo um estudo recente apoiado pela ONU, que mostrava que regressaria aos níveis dos anos 1980 já em 2040.
Em 1987, vários países concordaram em proibir ou reduzir gradualmente a utilização de mais de cem substâncias químicas que degradavam a camada de ozono e tinham provocado um "buraco" na camada acima da Antártida. Uma degradação que é atribuída, sobretudo, à utilização de clorofluorcarbonetos, que eram comuns em sprays de aerossóis, solventes e refrigerantes.
A proibição do uso dessas substâncias, acordada no Protocolo de Montreal, foi considerada eficaz na recuperação da camada de ozono, mas o buraco, que cresce na Antártida durante a primavera e volta a diminuir no verão, atingiu novos máximos entre 2020 e 2022, o que levou os cientistas da Nova Zelândia a investigar a razão. Num artigo publicado na revista Nature Communications, os investigadores descobriram que os níveis de ozono diminuíram 26% desde 2004 no centro do buraco.
"Isto significa que o buraco não só permaneceu em grande área como também se tornou mais profundo [com menos ozono] durante a maior parte da primavera antártica. Os buracos de ozono especialmente duradouros entre 2020-2022 encaixam-se perfeitamente neste quadro, já que o tamanho e profundidade do buraco durante outubro foi particularmente notável em todos os três anos", explicou Hannah Kessenich, estudante de doutoramento na Universidade de Otago e principal autora do estudo, à CNN Internacional.
Para chegar a esta conclusão, os cientistas analisaram o comportamento da camada de ozono entre setembro e novembro utilizando informações de satélite. Recorreram a dados históricos para comparar esse comportamento, a alteração dos níveis de ozono e medir os sinais de recuperação do ozono. Depois procuraram identificar o que estava a provocar essas alterações.
No final descobriram que a destruição do ozono e o aprofundamento do buraco resultaram de alterações no vórtice polar antártico, um vasto redemoinho de baixa pressão e ar muito frio, acima do Pólo Sul.
Os investigadores não estudaram a fundo as causas dessas alterações, mas reconheceram que são muitos os fatores que podem também contribuir para a destruição do ozono, incluindo a poluição que aquece o planeta, as partículas minúsculas emitidas pelos incêndios e vulcões e as alterações do ciclo solar.
"No conjunto, as nossas descobertas revelam que os recentes e grandes buracos de ozono podem não ser causados apenas pelos CFC. Assim, embora o Protocolo de Montreal tenha sido indiscutivelmente bem-sucedido na redução dos CFC ao longo do tempo e na prevenção de catástrofes naturais, os recentes e persistentes buracos de ozono na Antártida parecem estar intimamente ligados a alterações na dinâmica atmosférica", acrescentou Kessenich.