Cabo Verde está prestes a conseguir a autonomia agrícola alimentar e isso deve-se à exploração de recursos internos mas também à compra de terras no estrangeiro, a começar pelo Paraguai.
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A República de Cabo Verde, arquipélago marcado pela aridez dos seus solos, está em vias de conseguir atingir a autonomia agrícola alimentar. E não se trata de nenhum milagre da multiplicação dos pães, mas tão só o resultado de uma estratégia integrada de exploração de recursos internos e externos, cujos resultados começam agora a ser visíveis, e que tem o seu foco na produção de milho em terras compradas na década de oitenta no Paraguai pelo Governo cabo-verdiano.
Na próxima semana, a partir de quarta-feira, a Cidade da Praia acolhe o IV Simpósio de Segurança Alimentar e Nutricional e Desenvolvimento Sustentável (SANDS) da comunidade lusófona, onde serão debatidas as grandes questões sobre os problemas da segurança alimentar e nutricional. Entre outros temas, a experiência cabo-verdiana e as políticas que têm sido seguidas pelo executivo estarão em cima da mesa.
Segundo o Ministério do Desenvolvimento Rural, estão já confirmadas no seminário as presenças dos ministros da agricultura e pescas de São Tomé e Príncipe e de Timor-Leste, bem como o secretário de Estado da Alimentação e da Investigação Agroalimentar português e o secretário de Estado da Agricultura angolano, para além do secretário executivo da Comunidade dos países de Língua Portuguesa, o embaixador Murade Murargy. Para além dos representantes políticos dos diversos países lusófonos, participam ainda neste debate alargado diversos especialistas nas diferentes áreas de segurança alimentar, organismos internacionais, investigadores, empreendedores e organizações da sociedade civil ligadas a estas problemáticas.
O IV Simpósio da SANDS procura pôr a ciência e o conhecimento ao serviço da resolução de problemas concretos, numa «dinâmica pró-ativa» de investigação, pesquisa e desenvolvimento, proporcionando uma «oportunidade ímpar» de colocar as autoridades governamentais da CPLP em contacto com a realidade do arquipélago e os principais desafios e oportunidades, refere um documento da organização divulgado pela agência de notícias de Cabo Verde.
Milho produzido no Paraguai em terras compradas por Cabo Verde
Muito brevemente começarão a chegar ao país os primeiros carregamentos de milho produzido no Paraguai em terras compradas pelo governo cabo-verdiano em 1985. «Podemos dizer que Cabo Verde pode assegurar a sua segurança alimentar, que vamos poder garanti-la, não só com a produção interna, como a que vem de fora, para podermos abastecer o mercado nacional», anunciou a ministra do Desenvolvimento Rural, Eva Ortet.
Segundo a ministra, quer as novas barragens (quatro já construídas, outras tantas em construção e mais nove a construir até 2017), quer a produção no Paraguai, vão gerar uma «reviravolta», que permitirá, paralelamente, abastecer a pecuária. «Somos ousados e já podemos dizer que vamos garantir a sustentabilidade da alimentação em Cabo Verde», sublinhou.
Por seu turno, o primeiro-ministro José Maria Neves anunciou que os silos no complexo agrícola paraguaio estão prontos e o Conselho de Ministros já aprovou o contrato de convenção de estabelecimento entre o Governo e a empresa Ilha Verde, que produz em grandes extensões no Paraguai e que vai garantir a soberania alimentar, como a transformação dos produtos agrícolas em grande escala em Cabo Verde. «Estamos a fazer aqui uma autêntica revolução em termos de produção agrícola, sobretudo de cereais", disse o chefe do Governo.
Paralelamente, e em colaboração direta com a ONU, o Governo está a trabalhar numa estratégia de combate à desertificação no arquipélago, para evitar a falta de água e a erosão dos solos. Em declarações aos jornalistas, a coordenadora residente do Sistema das Nações Unidas, Richardson-Golinski reconheceu que «que o combate à desertificação tem sido muito importante para Cabo Verde. O arquipélago está a conseguir mobilizar água e combater a erosão dos solos. Há bases muito importantes na reflorestação, na mobilização de água e na prevenção da erosão».