No Senado Federal, os ilustres senadores da oitava economia do mundo não ocupam uma das salas.
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Quem percorre as salas do Senado Federal, a câmara alta do Parlamento brasileiro, vê a entrada do plenário, num lado, o restaurante do outro, o café mais à frente, salas de reuniões aqui e ali e, claro, os gabinetes dos senadores, os mais seletos eleitos da nação.
O gabinete 19, o 20, o 21, o 22, o 23... o 25.
E o 24? Porque nenhum senador brasileiro tem o gabinete 24?
A resposta é surpreendente: no famoso, e ilegal, jogo do bicho, espécie de lotaria muito popular no Brasil, cada animal tem direito ao seu número.
E o número 24 é o do veado, animal conotado com homossexualidade no país - a palavra "transviado", usada antigamente para apontar o dedo aos gays, foi reduzida a "viado", com 'i', e daí, por proximidade fonética, transformada em "veado", com 'e'.
O motivo pelo qual a principal câmara legislativa do país não tem o gabinete 24, saltando do 23 para o 25, é, portanto, a homofobia. Além de uma boa dose de infantilidade de senhores pagos a peso de ouro para se comportarem como adultos.
Entretanto, nas últimas eleições, o grotesco senador Magno Malta, cantor gospel e defensor da cura gay, perdeu a vaga no Congresso para Fabiano Contarato, homossexual assumido, casado com um homem e pai de dois filhos adotivos. Talvez seja o início, apesar do bolsonarismo, de uma nova era na câmara alta brasileira.
O correspondente da TSF no Brasil, João Almeida Moreira, assina todas as quintas-feiras no site da TSF a crónica Acontece no Brasil.