"Campos para imigrantes" e antissemitismo: há a "possibilidade de ter eventos até piores do que o Holocausto"
No Fórum TSF, o filósofo José Gil sublinha que "o impensável pode ser possível de novo". Já a historiadora Irene Flunser Pimentel alerta também para o reaparecimento do preconceito contra os judeus e para o "cuidado" que é preciso ter ao usar a palavra genocídio
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O "impensável" pode acontecer de novo, "porque está sempre a ser reativado", e o mais "terrível" é que não se encontra o "antídoto". O alerta é do filósofo José Gil, em declarações no Fórum TSF desta segunda-feira, o dia em que se assinalam os 80 anos da libertação do campo de extermínio da Alemanha nazi de Auschwitz, na Polónia, na Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
Atualmente e "a nível planetário", a sociedade, sobretudo a dos Estados Unidos, está "ameaçada" pela xenofobia, pelo racismo e pelo antissemitismo — os mesmos sentimentos que "encorajaram" o Holocausto. "Já não haverá, talvez, campos de morte, há campos para os imigrantes. Mas a própria sociedade está, como dizia Primo Levi, desenhada para acolher e para favorecer isso mesmo", complementa José Gil.
Por sua vez, a historiadora Irene Flunser Pimentel "nunca" pensou assistir ao "recrudescimento do antissemitismo", tanto do lado da extrema-direita (como aconteceu no passado) e, agora, "até à esquerda". Deve-se "combater qualquer tipo de exclusão do outro e qualquer discurso de ódio", afirma, acrescentando que Portugal não está imune a estas situações.
"Nós temos uma possibilidade de vir a ter eventos tão horríveis ou até piores do que o Holocausto."
Flunser Pimentel avisa igualmente que "é preciso ter muito cuidado com as comparações", sem especificar casos: "A palavra genocídio, hoje em dia, é usada por tudo e mais alguma coisa, para efeitos de propaganda."
Aliás, um "grande problema" da História é perceber se "estamos ou não a viver um período idêntico". A especialista resume o seu ponto de vista em poucas palavras: "A História não se repete, agora que ela se assemelha muitas vezes, isso, não tenho dúvidas."
"Em 1945, quando se começou a conhecer o que se tinha passado nos campos de extermínio, sobretudo situados na Polónia, todos os seres humanos tinham aquela frase na boca: 'Nunca mais isto pode acontecer.' Ora, nós sabemos que já aconteceu de novo."
Estima-se que 1,1 milhões de pessoas morreram em Auschwitz, a maioria das quais judeus. No total, durante a Segunda Guerra Mundial, seis milhões de judeus foram mortos pelos nazis.

