"Cansaço geral." Incêndio e confrontos em Paris durante mobilização 'Bloquear tudo'
"Esperamos mudança. Quando se nomeia o senhor Lecornu como primeiro-ministro depois do senhor Bayou, isso mostra que o Presidente não quer ouvir esta necessidade de outra política"
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Um incêndio deflagrou esta quarta-feira num restaurante no bairro das Halles, no centro de Paris, durante confrontos entre manifestantes da mobilização 'Bloquear tudo' e as forças de segurança. Uma coluna de fumo negro ergueu-se da fachada do edifício, obrigando ao encerramento da estação de metro, antes de os bombeiros conseguirem controlar as chamas.
O dia está a ser marcado por forte tensão na capital e em várias cidades francesas. Só em Paris, 199 pessoas foram detidas, das quais 99 ficaram sob custódia. O Ministério do Interior registou 295 detenções e quatro feridos ligeiros entre as forças policiais, no contexto de 430 ações assinaladas durante a manhã em todo o país.
A prefeitura da polícia anunciou ter impedido uma “tentativa de intrusão” de mil manifestantes na estação de comboio Gare du Nord. Os protestos também afetam o sector da educação: cem liceus registaram bloqueios ou perturbações, incluindo 27 totalmente encerrados. A União Sindical de Estudantes do Ensino Secundário reivindica ações em 150 estabelecimentos. Perante a dimensão do movimento, o Ministério do Interior mobilizou 80 mil agentes em todo o território, apoiados por helicópteros, drones, veículos blindados e canhões de água.
Se, nas primeiras horas do dia, os confrontos se concentraram entre Les Halles e Châtelet, à tarde o ambiente acalmou. Vários milhares de pessoas reuniram-se de forma pacífica na Praça da República, palco tradicional de mobilizações.
Julie, 29 anos, trabalhadora do setor do cinema, explicou porque decidiu manifestar-se: "É um cansaço geral, tanto político como económico e climático… Nas nossas profissões somos muito precários, sentimos que não conseguimos sair disto."
Para muitos manifestantes, a nomeação do novo primeiro-ministro, Sébastien Lecornu, é um símbolo de continuidade da política de Emmanuel Macron. Frédérique, directora de escola, foi clara: "Esperamos mudança. Quando se nomeia o senhor Lecornu como primeiro-ministro depois do senhor Bayou, isso mostra que o Presidente não quer ouvir esta necessidade de outra política."
Nos bloqueios às entradas de Paris, Fabien, motorista de pesados, juntou-se à filha no protesto: "Participei nas manifestações contra a reforma das pensões, não fomos ouvidos. Por isso hoje [quarta-feira] estou aqui no bloqueio. É verdade que sofremos."
Os sindicatos estão satisfeitos com a capacidade de mobilização. Do lado dos manifestantes, a palavra de ordem é persistir. Uma nova data já foi anunciada: 18 de setembro, para outro dia de mobilização nacional.
