Papa confirma decisão da Justiça e proíbe cardeal condenado por pedofilia de contactar com menores

epa07397774 Cardinal George Pell (L) leaves the County Court in Melbourne, Australia, 26 February 2019. Australia's most senior Catholic Cardinal George Pell was found guilty on five charges of child sexual assault after an unanimous verdict on 11 December 2018, the results of which were under a suppression order until being lifted on 26 February 2019. EPA/DAVID CROSLING AUSTRALIA AND NEW ZEALAND OUT
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O cardeal australiano George Pell que foi condenado pelo abuso sexual de dois menores conhece a pena esta quarta-feira. Enfrenta até 50 anos de prisão.
O Papa Francisco confirmou restrições que proíbem o cardeal George Pell, condenado por pedofilia, a contactar com menores.
Em comunicado, o Vaticano escreve que "para garantir o curso da justiça, o Santo Padre confirmou as medidas cautelares já tomadas contra o cardeal George Pell", interditando-o de exercer as suas funções na Igreja.
O porta-voz Alessandro Gisotti lembra que, por muito "doloroso" que seja este caso para muitos, Pell reafirmou sua inocência e tem o direito "de se defender até o último grau".
O cardeal George Pell, que foi até dezembro a terceira figura do Vaticano, foi considerado culpado por um tribunal australiano pelo abuso sexual de dois rapazes do coro e deve conhecer a pena na quarta-feira, adiantou a AP.
A AP lembra que este é o clérigo com o cargo mais elevado de sempre no Vaticano a ser condenado pelo abuso sexual de menores, tendo desempenhado funções de conselheiro económico do papa Francisco e de ministro da Economia do Vaticano.
O veredicto que foi dado pelo tribunal australiano em dezembro só agora foi tornado público, devido a impedimento legais, refere, por seu lado, a BBC.
A sentença do cardeal Pell será lida na quarta-feira e os seus advogados já adiantaram que irão recorrer da condenação.
Segundo a AP, o cardeal agora com 77 anos, mas com 55 no momento dos factos pelos quais foi condenado, enfrenta uma pena de prisão máxima de 50 anos.
O júri condenou o clérigo por pedofilia, considerando-o culpado de ter abusado de dois rapazes de 13 anos, que pertenciam ao coro da igreja, e que foram apanhados pelo cardeal a beber vinho sacramental numa sala nas traseiras da St. Patrick's Cathedral, em Melbourne, quando era arcebispo, tendo os abusos decorrido na sequência desse momento.
O tribunal, que apenas ouviu uma das vítimas, uma vez que a outra morreu há alguns anos, considerou provado que o cardeal forçou os rapazes a atos indecentes.
O veredicto foi dado pelo tribunal em dezembro e noticiado pela imprensa australiana, apesar das restrições impostas.
O julgamento, as acusações específicas, o testemunho e quase todos os outros detalhes envolvendo as acusações contra o cardeal de 77 anos não puderam ser divulgados por decisão do tribunal, que proibiu a imprensa australiana de noticiar.
O julgamento foi realizado perante o juiz Peter Kidd, do Tribunal de Comarca do Estado de Victoria.
Desde agosto de 2017 que o cardeal australiano, a terceira figura do Vaticano, enfrenta um processo por supostos crimes sexuais contra menores.
George Pell é o primeiro alto funcionário da cúria romana acusado em supostos crimes de pedofilia, mas sempre se declarou inocente das acusações.
Ainda em dezembro o papa afastou George Pell do seu círculo de conselheiros, assim como o cardeal Francisco Errázuriz, suspeito de encobrir atos pedófilos de um eclesiástico no Chile.
Os dois altos representantes da Igreja Católica integravam o Conselho de Cardeais, composto por nove conselheiros em representação de todos os continentes, também conhecido pela designação "C9", e cuja missão é ajudar o Papa Francisco a reformar a administração do Vaticano.
A confirmação da condenação de Pell surge dias depois de ter terminado no Vaticano uma cimeira histórica organizada a pedido do papa Francisco para abordar a questão dos abusos sexuais por membros da igreja católica.
A cimeira, que juntou responsáveis de episcopados e institutos religiosos e na qual também se ouviram testemunhos de vítimas, terminou no domingo com a apresentação de oito passos para a luta contra esses abusos.
"Nenhum abuso deve jamais ser encoberto [como era habitual no passado] e subestimado, pois a cobertura dos abusos favorece a propagação do mal e eleva o nível do escândalo", começou por referir o papa Francisco perante os 190 representantes da hierarquia religiosa e 114 presidentes ou vice-presidentes de conferências episcopais de todo o mundo que estiveram reunidos desde quinta-feira no Vaticano.