Carlos é português, vota no Brasil, e nem no Estado Novo viu tanta "intolerância" política
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Carlos Neves é um dos mais de 150 milhões de eleitores que escolhem, no Brasil, entre Lula e Bolsonaro. É português e os documentos comprovam-no, mas o sotaque já tem outras cores. E do outro lado do Atlântico, nas ruas de São Paulo, reconheceu "num país portentoso" o microfone da rádio que costuma ouvir a quase oito mil quilómetros de distância.
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As últimas horas no Brasil ficaram marcadas por um incidente com uma deputada brasileira muito próxima de Bolsonaro, Carla Zambelli, que perseguiu um homem com uma arma nas mãos, numa rua em São Paulo, este sábado. Num vídeo divulgado nas suas redes sociais, afirma que agiu dessa forma porque supostos apoiantes de Lula da Silva a "cercaram" e "atacaram" quando saía de um restaurante.
Questionado pela TSF, Carlos Neves assume que há "uma grande probabilidade" de episódios como estes começarem a multiplicar-se e parte até da própria experiência, ainda em Portugal.
"Nunca houve tanta permissividade de armas como há neste momento no Brasil. Faço a comparação com Portugal nesse sentido. Vivi a ditadura fascista, era adolescente. Mesmo com Salazar, nunca um deputado mais radicalizado, que estivesse pelo Estado Novo, puxaria de uma arma num bairro para perseguir alguém que o contestou politicamente", explica.
Para Carlos, o episódio de Zambelli está a ser visto no país como "um caso pontual, mas que não muda o voto" dos eleitores. Ainda assim, se Bolsonaro ganhar, "há uma perspetiva de que a intolerância se agrave e qualquer um se ache no direito de puxar de um revólver para apontar a alguém que não veja o mundo da mesma maneira".
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Estas eleições são, aos seus olhos, "o resultado final de uma radicalização por que a sociedade brasileira passou desde 2013, quando houve grandes manifestações contra o Partido dos Trabalhadores [PT] e contra Dilma", das quais Bolsonaro "é um produto".
Essa radicalização à direita "impensável há 20 anos" nasce, acredita Carlos Neves, de uma "rejeição do PT por causa da corrupção e acusações de desvio de verbas públicas que, na realidade, nem é um exclusivo" do partido. "Os processos da Lava Jato colaram o rótulo da corrupção apenas ao PT e a rejeição catapultou Bolsonaro para o poder."
E o atual Presidente brasileiro, assume, "tem um comportamento completamente extremado", mas é algo que "não influencia amplas camadas do eleitorado brasileiro, que acham mais importante não ter corrupção".
De olhos postos no futuro, vê no Brasil um "país portentoso", com 27 estados que são, em si, "países dentro de um único país".
"Conheço o mundo todo e digo o seguinte: há poucos lugares no mundo com possibilidades de recuperação económica e social como este. E o Brasil está a dar uma lição à Humanidade, até em termos políticos, mas às vezes por linhas tortas. Veremos com o tempo", vaticina.
E o tempo o dirá. Até lá, a TSF continua a tocar "no tablet ou no telemóvel".
